Desafios na evolução dos tecidos de proteção

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Por Gabriela Azi*

Desde a criação das primeiras tecnologias, os tecidos de segurança passaram por grandes evoluções no sentido de atender os requisitos e necessidades de proteção dos trabalhadores contra os riscos inerentes aos seus ambientes laborais e de proporcioná-los uma melhor sensação de conforto ao utilizar uma vestimenta de proteção.

Na década de 1970, no segmento industrial, tecidos de proteção antichama passaram a ser comumente utilizados quando empresas químicas e petroquímicas começaram a implementar programas de vestimentas antichama. Estes programas foram implementados para prevenir queimadura causadas por fogo repentino – fogo intenso e de curta duração provocado por uma reação de combustão acidental onde exista a presença de substâncias combustíveis e inflamáveis, podendo gerar temperaturas acima de 1000°C. Nos dias atuais, vestimentas antichama são amplamente utilizadas por empresas do setor elétrico, óleo e gás, químicas, petroquímicas, siderúrgicas, mineradoras e indústrias em geral.

O intuito destas vestimentas é proteger os trabalhadores contra riscos térmicos, provenientes de um incidente de arco elétrico, fogo repentino ou respingo de metal líquido e projeção de materiais quentes e/ou incandescentes. As consequências destes incidentes podem ser queimaduras corporais de segundo e terceiro grau, chegando ao óbito nas condições mais extremas.

Considerando a gravidade dos riscos e das severas lesões mencionadas, a utilização de vestimenta antichama se torna indispensável. É a última barreira de proteção e garante ao trabalhador tempo suficiente para escapar de um ambiente em chamas. De acordo com estatísticas divulgadas pela Occupational Safety and Health Administration (OSHA), a maioria das lesões envolvendo estas atividades estão associadas à ignição dos tecidos que não apresentam resistência à chama.

Nos últimos 40 anos, muitos foram os avanços tecnológicos e as inovações realizadas na indústria de tecidos de proteção com o objetivo de desenvolver fibras e tecidos de alto desempenho capazes de proteger os trabalhadores, além de melhorar o bem-estar dos profissionais e atender exigentes critérios de performance e certificações. Os tecidos de segurança de alta qualidade ficaram mais leves, confortáveis e menos agressivos em contato com a pele. Sem comprometer a eficiência em parâmetros importantes considerados nestes riscos térmicos, como, por exemplo, percentagem de queimadura corporal, resultado de Arc Thermal Protective Value (ATPV), e características físico-químicas, quando submetidos a ensaios.

Combinar performance, conforto e sustentabilidade

A valorização de processos de fabricação e produtos que impactam positivamente na vida das pessoas e na preservação do planeta.

Os assuntos que envolvem sustentabilidade e responsabilidade ambiental são um dos temas mais relevantes da atualidade para todos os segmentos produtivos.

A partir da necessidade de preservar os recursos naturais para as novas gerações e a implementação de legislações globais mais rigorosas neste aspecto, empresas e consumidores estão mais ambientalmente conscientes. Este cenário não é diferente para futuro dos tecidos de proteção e dos tecidos antichama.

Práticas sustentáveis agregam valor aos produtos e ganham espaço e evidência entre os requisitos considerados pelos consumidores na definição de seus fornecedores.

O grande desafio para os fabricantes de tecidos Flame Resistant (FR) está em desenvolver e implementar tecnologias na fabricação de seus produtos que, além de melhorar os requisitos de desempenho, cumpram com a sua política de sustentabilidade, tendo sempre uma visão em relação aos impactos ambientais e o consumo dos recursos naturais em seus processos produtivos. Encontrando soluções ecologicamente adequadas e sustentáveis para toda a cadeia, desde a concepção e desenvolvimento das fibras até a finalização do tecido, bem como sendo inovadores e criativos para desenvolver alternativas na utilização de matérias primas renováveis e biodegradáveis que possam ser incorporadas na mescla dos tecidos antichama.

As fibras de celulose, por exemplo, têm base orgânica e são produzidas a partir da madeira, que é uma matéria prima renovável. São utilizadas na mescla de tecidos tanto para situações de arco elétrico e fogo repentino, quanto para situações de respingo de metal líquido, além de outras aplicações como tecidos para as áreas de combate a incêndio e proteção militar.

A lã é uma das mais antigas alternativas de fibra sustentável com aplicabilidade no segmento de tecidos de proteção. É biodegradável, reciclável e tem alta durabilidade e apresenta um bom desempenho na mescla com outras fibras para proteção contra respingo de metal fundido, com a característica principal de repelência.

Apesar de não ser um conceito novo e a indústria têxtil de forma geral estar evoluindo muito na criação de tecidos orgânicos, biodegradáveis e recicláveis e na utilização sustentável de matérias primas, combinar estes critérios não é uma tarefa simples para o segmento de tecidos antichama em função da complexidade produtiva destes produtos.

Fabricantes inovadores e conscientes investem fortemente em pesquisa e alta tecnologia para desenvolver tecidos com esta combinação de características e estão realizando significantes avanços neste campo, lançando produtos que comprovam que resistência, qualidade e sustentabilidade podem ser compatíveis.

Ciência e tecnologia para melhorar e proteger a vida das pessoas e reduzir os impactos ambientais negativos.

Resistência à chama

Um aspecto que requer atenção de consumidores e fabricantes é a utilização de produtos químicos responsáveis por promover característica antichama aos tecidos.

Os tecidos FR são desenvolvidos a partir de fibras projetadas ou quimicamente tratadas para serem resistentes à chama. Neste processo, os químicos podem ser eficientemente adicionados tanto às fibras naturais quanto às sintéticas. Ou tornam-se antichama através da aplicação de produtos químicos em seu estágio final como tecido.

Atenção das empresas ao definir a vestimenta utilizada pelos seus trabalhadores, em avaliar as fibras na composição dos tecidos, os químicos envolvidos no processo e a metodologia aplicada para dar resistência antichama. Ainda existem no mercado tecidos tratados com produtos químicos que contém substâncias tóxicas e liberam gases contaminados quando entra em ignição. São prejudiciais tanto para as pessoas quanto para o meio ambiente. Podem causar sérios problemas de saúde, como alergias de pele, problemas respiratórios, problemas hepáticos, entre outros.

Fabricantes de tecido de alto desempenho, por sua vez, concentram esforços em utilizar produtos químicos com baixo índice de toxicidade, encontrar alternativas para reduzir a utilização de químicos no processo e garantir que o descarte dos resíduos não agrida o meio ambiente.

Reciclagem

Desenvolvida há mais de 30 anos, uma das bem-sucedidas inovações tecnológicas sustentáveis do setor é a utilização de fios produzidos a partir de garrafas plásticas recicladas na composição de poliéster. Além de consumir garrafas PET que seriam descartadas no meio ambiente, a produção de poliéster reciclado reduz o gasto de energia em 70% se comparado com o consumo do processo de fabricação original, e elimina o uso do petróleo que é base para a fabricação de fibras virgens. Assim, evita-se o uso de matéria prima não renovável e que causa danos ao meio ambiente em seu processo de extração.

Economia Circular

Tão importante quanto utilizar matérias primas renováveis e recicláveis é implementar metodologias de fabricação sustentáveis e reduzir o desperdício.

Um exemplo é a aplicação do conceito e certificação Cradle to Cradle, ou berço ao berço, na indústria de tecidos e fibras de proteção FR.

Mundialmente reconhecido e utilizado predominantemente por empresas e organizações dos Estados Unidos, Europa e China, o modelo prevê a não geração de resíduos, a utilização de fontes de energia renováveis e a reutilização de matérias primas que voltam para o ciclo de fabricação de forma infinita, além da eliminação do desperdício e do acúmulo de lixo.

Trata diretamente os três desafios globais de sustentabilidade: alterações climáticas, escassez de recursos e toxicidade em materiais. A certificação considera a aderência das empresas aos cinco critérios:

  • Tratamento do material (todos os produtos químicos envolvidos no produto devem ser ótimos ou toleráveis);
  • Reutilização de Materiais;
  • Uso de Energia Renovável;
  • Gerenciamento de Água;
  • Responsabilidade Social;

Tecidos inteligentes e multifuncionais

Em suma, tecidos inteligentes são definidos como tecidos capazes de sentir e responder as mudanças do ambiente com o objetivo de proporcionar maior conforto e eficiência. São classificados em três categorias de acordo com a funcionabilidade:

  • Tecidos Inteligentes Passivo: são a primeira geração de tecidos inteligentes, capazes de sentir as condições do ambiente, mas não de reagir a elas.
  • Tecidos inteligentes Ativos: a segunda geração de tecidos inteligentes combinam as duas funções: detectam sinais do ambiente através de sensores ou de uma unidade de controle. São tecidos com memória e termorreguladores, bem como são resistentes à água, mas permeiam vapor e umidade corporal.
  • Tecidos Ultra Inteligentes: são a terceira geração de tecidos inteligentes e tem a capacidade de perceber, reagir e se auto adaptar às reações do ambiente.

Apesar de a indústria têxtil estar bastante avançada no desenvolvimento de tecnologias e aplicação do conceito de tecidos inteligentes, estes ainda não são utilizados na fabricação de tecidos antichama. Mais uma vez, em função da complexidade envolvida no processo e na combinação de características necessárias para construir um produto resistente à chama.

No entanto, considerando a evolução dos tecidos de proteção e os esforços em inovações tecnológicas no segmento de tecidos FR, não devemos estar tão distantes do momento em que tecidos antichama também serão inteligentes e multifuncionais.

No futuro, quando estas tecnologias forem aplicadas, os tecidos antichama irão não apenas proteger as pessoas contra os riscos de exposição ao calor e à chama, mas também melhorarão a performance no ambiente de trabalho, incorporando funcionalidades como regulagem de temperatura corporal, melhora da respirabilidade, flexibilidade e controle de umidade.

Estamos vivenciando uma nova era de inovações tecnológicas na indústria têxtil, com o lançamento de fibras modernas, ecológicas, com bases orgânicas e sintéticos de alto desempenho. Os tecidos antichama caminham na mesma direção através de inesgotáveis estudos para o desenvolvimento de fibras e tecnologias que podem reinventar este mercado.

*Gabriela Azi – Especialista em tecidos e vestimentas de segurança. Graduada em Administração de Empresas pela Ulbra e MBA em Gestão de Vendas pela FGV

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