Ergonomia no setor do jeans
Os projetos na área da Ergonomia conduzidos pela Fundacentro contribuíram em vários setores da produção para a melhoria das condições de trabalho.
Voltados a adequar ergonomicamente as estações de trabalho ao trabalhador, de forma a dar melhores condições para a realização das atividades, as ações realizadas pela instituição contribuíram para a minimização do número de afastamento de trabalhadores com lesões.
De projetos ergonômicos para os trabalhadores de portos no carregamento de sacas; projetos de móveis de costura industrial com design ergonômico; criação do espaço Tititi no Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco; projeto ergonômico na indústria calçadista de Birigui; projeto ergonômico em indústrias de confecção e casas de farinha; avaliação de riscos ergonômicos no trabalho das paneleiras de goiabeiras, mais uma vez a ergonomia entra em cena, mas no setor do jeans.
De acordo com a ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), somente em 2013, o Brasil produziu cerca de 365 milhões de peças de moda jeanswear. O País, conta ainda com mais de 6,6 mil unidades produtivas com porte industrial.
Mas é em Caruaru, Agreste Pernambucano, segundo maior pólo têxtil do País, responsável pela subsistência de inúmeras famílias e geração de emprego, que a Fundacentro, a Auditoria Fiscal do Trabalho de Recife, (representada pelo auditor Paulo Mendes) e Anniele Martins, fisioterapeuta e funcionária da empresa que hoje é utilizada como referência pelas modificações realizadas no ambiente de trabalho, onde tudo começa.
Em 2014, iniciava-se o estudo ergonômico para a melhoria das condições no ambiente de trabalho em empresas localizadas nas cidades de Toritama, Santa Cruz e Caruaru, muitas das quais possuem característica de trabalho informal, e que não estavam adequadas à legislação vigente.
O start inicial partiu da fisioterapeuta Anniele Martins, funcionária de uma empresa do segmento do jeans, que por sua vez já havia recebido solicitação da Auditoria Fiscal do Trabalho de Pernambuco para que realizasse adequações no ambiente de trabalho.
Partiu da própria fisioterapeuta a iniciativa de desenvolver uma estação de trabalho que pudesse atender a realidade dos trabalhadores que exercem atividade de auxiliar de costura, que de acordo com a própria fisioterapeuta, é uma tarefa de limpeza da peça totalmente diferente de outras atividades realizadas no setor têxtil.
Foi então que Anniele, após tomar conhecimento de uma cadeira de auxiliar de costura desenvolvida pela Fundacentro e usada pela CONACCOVEST (Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias do Setor Têxtil, Vestuário, Couro e Calçados), decidiu procurar pela entidade para que a mesma desenvolvesse um projeto ergonômico correto.
Em uma primeira fase, conta a fisioterapeuta, a cadeira desenvolvida pela Fundacentro não se adequou à realidade da empresa, necessitando de reformulação no projeto ergonômico. Novos passos foram dados e adaptações foram feitas para que então pudesse se chegar ao projeto atual, contemplando de forma ergonomicamente correta os trabalhadores desta função.
“Foram feitas adaptações no primeiro laudo que apresentamos. Mas a mesa foi muito bem recebida. A produtividade não mudou e para o trabalhador não houve mais queixas físicas e dores. Agradeço a receptividade do profissional Ricardo Serrano da Fundacentro, que com seu olhar de ergonomista, em muito contribuiu para as melhorias da empresa”, coloca Anniele.
Detalhes que fazem a diferença
A indústria do jeans, embora pareça uma simples confecção, apresenta riscos que vão além da questão postural: é um trabalho minucioso que passa pelo corte do jeans, o tingimento, estonamento, os quais são realizados manualmente. Após todo esse processo, o jeans então vai para a finalização onde são retiradas as rebarbas para o acabamento.
Ricardo Serrano, ergonomista da Fundacentro, que utilizou um contador de cronômetro, conta que cada peça, ou seja, cada jeans, leva em média 1 minuto e 35 segundos na fase de acabamento. São 52 movimentos repetitivos para cada peça. Por dia, são produzidas de 550 a 800 peças em uma equipe com 5 trabalhadores.
Há também, além dos problemas de má postura, bancos improvisados que dificultam o manuseio da peça, problemas circulatórios, temperatura elevada com o uso de máquinas e a dispersão de partículas de linha ou da própria peça que ficam em suspensão e requerem o uso de máscaras faciais de proteção.
Protótipo
Para adequar o ambiente de trabalho, o ergonomista da Fundacentro desenvolveu um protótipo que pudesse minimizar as várias queixas dos trabalhadores.
Projetado com base na Nota Técnica 060/2001 e a NR-17, Serrano procurou fazer um protótipo que pudesse atender as necessidades básicas para a realização do trabalho com conforto e segurança. “Mais do que tudo, o protótipo é uma proposta de uma nova maneira para se fazer o acabamento da peça contemplando a necessidade do trabalhador de escolher a postura adequada”, ressalta.
Ainda segundo o ergonomista, a proposta de uma nova estação de trabalho é que a mesma contemple a NR-17, como também atenda à população trabalhadora, em mais de 90% no que se refere à adaptação e às dimensões antropométricas. Foi realizado estudo dos segmentos corporais para dimensionar altura, profundidade e alcance biomecânico.
Ricardo desenvolveu na construção do protótipo, uma peça inclinada, a fim de facilitar o alcance biomecânico e a acuidade visual do trabalhador para facilitar a realização do acabamento.
Outros detalhes importantes considerados na construção do protótipo foram a barra de apoio para os pés, que além de apoiar a planta do pé na posição sentada, serve também como alternância dos membros inferiores e a parte superior do tampo que proporciona o apoio do membro superior direito ou esquerdo e serve como local de depósito da peça.
O olhar do trabalhador
Com a reformulação dos postos de trabalho, os envolvidos na condução das ações realizaram um laudo técnico onde colheram depoimentos dos trabalhadores para compreender o quanto as mudanças foram positivas no cotidiano desses trabalhadores
A pergunta da equipe aos trabalhadores foi para compreender o que o trabalhador estava achando da nova bancada.
Em uma transcrição literal de uma das falas é possível perceber o quanto as modificações beneficiaram a trabalhadora, cujo nome não será divulgado, em razão de o laudo não ter sido ainda finalizado.
A trabalhadora respondeu: “Estou achando melhor a bancada. Não dói mais as costas, é mais confortável, a cadeira e a bancada. Antes doía o pulso e agora não dói mais não. O banco antigo doía muito o pescoço e as costas; a nova bancada não dói mais não. Antes eu sentia o pescoço doendo, pulso doendo, agora tá melhor não precisa de mais nada. Faço esse trabalho há 2 anos. Antes quando doía eu passava uma pomadinha agora não passo mais não”.
Recomendações médicas
O médico Ortopedista, de Medicina do Trabalho e coordenador da Coordenação de Saúde no Trabalho da Fundacentro, Antonio Ricardo Daltrini integrou a equipe na construção do projeto ergonômico para as fábricas de Caruaru.
Daltrini observa que com a evolução no setor da costura, um número maior de doenças principalmente as osteomusculares vem crescendo.
De acordo com o médico, minimizar estes problemas requer melhorar o ambiente de trabalho seguindo as normas regulamentadoras, acompanhadas de uma melhor organização do trabalho, ergonomia das máquinas e mobiliário.
Parceria sólida
Além da Fundacentro e das empresas do pólo de Caruaru, a Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias do Setor Têxtil, Vestuário, Couro e Calçados (CONACCOVEST) exerceu papel fundamental junto à equipe.
Parceira da Fundacentro desde 2007, a Confederação realizou em dezembro de 2015, na cidade de Atibaia, o 3° Congresso Nacional da Conaccovest/Brasil que reuniu mais de 155 lideranças sindicais de todo o país para debater a conjuntura do setor têxtil e planejamento para 2016. Durante o evento, Ricardo Serrano apresentou palestra sobre Ergonomia e falou do protótipo realizado para a cadeia produtiva do jeans.
Para a coordenadora nacional da Secretaria de Saúde e Segurança e Meio Ambiente do Trabalho, Milene Rodrigues, a realização de vários seminários no estado de Pernambuco possibilitou aos participantes conhecerem os trabalhos sobre cadeiras ergonômicas já conduzidos por ambas as instituições. “A ideia é fazermos um evento ainda este ano onde o laudo será apresentado”, finaliza Milene.
Fonte: Fundacentro