Mais segurança e eficiência no campo e na construção
Por Marcelo Gomes Anelli da Silva (*)
Vivemos hoje no Brasil a realidade de quase duas décadas atrás na Europa e América do Norte quanto à aplicação de cabines em máquinas agrícolas e de construção. ‘Antes tarde do que mais tarde’ dizia um colega de trabalho.
Seja pela busca de diferencial competitivo ou por força de regulamentação, o fato é que a adoção do equipamento nos campos agrícolas e nas construções brasileiras representa um importante avanço. As cabines protegem a integridade física do ocupante e possibilitam a aplicação de sistemas de proteção que, para além de prevenir acidentes, podem evitar ataques químicos durante a aplicação de herbicidas.
Isso é muito bom. De acordo com estatísticas da Previdência Social, entre 2007 e 2013 o número de acidentes no campo em todo o País e nas construções bateu na casa dos cinco milhões, o que, além do prejuízo às vidas e às famílias, custou R$ 70 bilhões por ano, 8% desse montante atribuído ao setor de construção.
Não é mais possível assistir passivamente a essa situação. Felizmente, após intensos debates e reuniões do grupo de estudo formado por fabricantes e outros atores dos setores em questão, as normas técnicas foram revisadas, traduzidas e publicadas, e a regulamentação passou a exigir nas máquinas itens de proteção ao ocupante.
Por que demorou tanto? Nos países de Primeiro Mundo entende-se que para aumentar a competitividade com o retorno sobre o investimento é preciso antes valorizar o capital humano, proporcionando-lhe segurança e conforto no trabalho, o que resulta em produtividade e motivação.
No Brasil da reação à crise, a visão é a de que o uso de máquinas mais equipadas implica na elevação de custo do produto, no aumento do preço final de venda e, por consequência, na redução das margens operacionais.
Não precisa ser assim. A prática e o know-how para driblar os efeitos do custo adicionado, seja por melhorias no produto ou por gargalos de projeto, estão disponíveis no Brasil. Posso dizer por experiência própria que é possível adicionar valor ao produto com vantagens de redução de custo e tempo de desenvolvimento.
Atuando em uma organização 100% brasileira detentora do primeiro centro tecnológico independente do País dedicado ao apoio de projetos de engenharia, não são poucos os cases em que, solicitados sobre soluções para problemas pontuais de produto, conseguimos reduzir consideravelmente os custos e o tempo de desenvolvimento do projeto.
Isso é possível com engenharia e tecnologia de ponta – no caso das cabines, aplicadas em testes de conforto térmico (avaliação de ar condicionado), vibração de mãos, braços e corpo, otimização estrutural por simulação numérica, medição de ruído interno e ensaio de durabilidade estrutural em laboratório, simulando cargas de campo.
O mesmo vale para otimizações que abranjam projetos em seu todo. Em um case que realizamos para uma gigante global de equipamentos agrícolas, as análises do processo de fabricação de máquinas resultaram em melhorias estruturais do produto, com redução de custos e prolongamento da vida útil do equipamento para além dos costumeiros 4 ou 5 anos de safras, como queriam os seus usuários.
Ainda que por força de normas regulamentadoras, as cabines e as melhorias de conforto e segurança para os operadores de máquinas agrícolas e de construção no Brasil nos trazem uma saudável perspectiva de mudança.
Podemos vislumbrar no futuro próximo a tão esperada competitividade no campo e canteiro de obras, bem como a equiparação das máquinas produzidas no Brasil às normas internacionais, com possibilidades de atender outros mercados e contribuir para uma indústria nacional mais relevante.
(*) Marcelo Gomes Anelli da Silva – gerente de Tecnologia da SMARTTECH, empresa 100% brasileira com sede em Holambra (SP)