Para manter lucro, empresas cortam em segurança e acidentes aumentam

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(Foto: Marcelo Prates/Hoje em Dia)

 

O valor da tonelada de minério de ferro começa a despencar em 2011. Consequentemente, as mineradoras reduzem o investimento em segurança e saúde dos trabalhadores, que passam a ser pressionados para aumentar a produção. É a forma encontrada pelas empresas para compensar as perdas no mercado.

A constatação é do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em Minas Gerais, que aponta um trágico resultado na soma destes fatores: a taxa de mortes na mineração aumenta no Brasil a partir de 2011, após um período de queda. Em 2013, chegou a 28,21 óbitos por 100 mil trabalhadores.

“À medida que a lucratividade reduz, as mineradoras precisam produzir mais para compensar a queda do preço do minério. A pressão sobre o trabalhador aumenta o risco de acidentes. Associado a isso, as empresas reduzem o investimento na segurança”, afirma o médico Mário Parreiras de Faria, auditor fiscal do MTE.

Com mais de 30 anos de experiência, ele admite que a falta de investimento na segurança do trabalho e a fiscalização ineficaz elevam o risco de tragédias, como a provocada pelo rompimento da barragem de rejeitos da Samarco em Mariana, na região Central de Minas, em 5 de novembro. Segundo o auditor fiscal, um terço dos acidentes com ou sem mortes em mineradoras é registrado em Minas, onde há cerca de 190 mil trabalhadores no setor.

“Em 2013, a taxa de mortalidade em todos os demais setores foi de 7 por grupo de 100 mil habitantes (no país). Ou seja, apenas a mineração matou quatro vezes mais, muito em virtude da diminuição do investimento em segurança”, lamenta Faria.

Entram nas estatísticas de mortes na mineração apenas casos de vítimas que tinham carteira assinada pela mineradora. Ou seja, ficam de fora os que trabalhavam em empresas terceirizadas. “Portanto, a taxa é subestimada e a gravidade do problema é muito maior”.

O auditor fiscal cita, por exemplo, o desastre mais recente, em Mariana. Dos 13 operários envolvidos (entre mortos e desaparecidos), 11 eram terceirizados. Dos três trabalhadores que morreram na ruptura de uma barragem de rejeito de minério em Itabirito, também na região Central, em 2014, um era terceirizado.

Em 2007, quando houve cinco mortes em situação semelhante em São Sebastião das Águas Claras (Macacos), distrito de Nova Lima, na Grande BH, os cinco mortos prestavam serviço à mineradora. “Essas vítimas entraram nas estatísticas dos setores que faziam parte, como transporte e logística”, explica.

Falta de manutenção
A pressão sofrida pelos funcionários, aliada à redução no investimento em segurança, também é denunciada por Valério Vieira dos Santos. Ele é secretário-geral do Metabase Inconfidentes, sub-sede do sindicato dos trabalhadores em mineração que responde por parte da atividade na região de Mariana.

Segundo ele, do final de 2014 a junho deste ano, as mineradoras que atuam nesta parte do Estado demitiram 25% dos operários por causa da crise econômica. Mas a produção aumentou 35% no mesmo período.

“Os trabalhadores estão expostos a todo tipo de insegurança e risco, como operar máquinas danificadas e sem manutenção correta e usar ferramentas inadequadas. Enquanto isso, o ritmo de trabalho só intensifica”, diz.

Funcionários de multinacional confirmam regras menos rígidas para evitar acidentes de trabalho

Quem vive a rotina da atividade mineradora confirma o “relaxamento” com a segurança dos trabalhadores.

É o caso de dois irmãos, de 34 e 37 anos, que trabalham para uma multinacional com atuação em Minas Gerais.

Um é funcionário e o outro, terceirizado. Segundo eles, que preferem manter o anonimato, assim como preservar a empresa, várias regras de segurança estão mais brandas.

A velocidade de deslocamento dos veículos dentro da mineradora, por exemplo, aumentou. Os carros que transportavam no máximo quatro pessoas passaram a carregar cinco.

A exigência do uso de EPIs (equipamentos de proteção individual) também está menos rígida. Mas o que mais chama a atenção destes trabalhadores na mineração são as mudanças nas regras de avaliação de terreno.

Segundo eles, na construção de uma estrada, por exemplo, se houvesse qualquer movimentação de solo, a obra era interrompida até que técnicos avaliassem o local, o que não está mais ocorrendo.

O auditor fiscal do MTE Mário Parreiras de Faria alerta para o risco do menor rigor quanto às regras de segurança. “Com a redução da frequência da manutenção, feita só se o equipamento quebrar, ele é operado no limite. O mesmo ocorre com os trabalhadores, que para aumentar a produção precisam fazer hora extra e turnos ininterruptos”.

Faria é coordenador da CPNM (Comissão Permanente Nacional da Mineração), em vigor há 15 anos com a proposta de promover a segurança para os trabalhadores do setor. Ele propõe a ampliação do debate para evitar novas tragédias.

Fonte: Hoje em Dia/R7

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