Software desenvolvido por pesquisadores da Fundacentro alcança 12 mil trabalhadores

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O software “sobrecarga térmica”, desenvolvido no período de 2009 a 2011 pelos engenheiros Paulo Alves Maia e Álvaro César Ruas da Fundacentro em Campinas, monitora mensalmente cerca de 12 mil trabalhadores do campo. De acordo com os engenheiros, quanto às estatísticas de uso do software, 700 pessoas, entre técnicos, engenheiros, médicos do trabalho e juízes, estimam mensalmente o IBUTG (Índice de Bulbo Úmido-Termômetro de Globo) para avaliar a sobrecarga dos trabalhadores.

A céu aberto, a maioria dos trabalhadores precisa utilizar vestimentas, que cobrem quase todo o corpo, o que dificulta a perda de calor. A combinação dessas condições pode levar os trabalhadores à sobrecarga térmica e provocar câimbras, fadiga severa e repentina, náuseas, vertigens, perda da consciência e, eventualmente, à morte.

Inédito no Brasil, o desenvolvimento do software constitui-se de relevada importância para garantir o trabalho seguro e saudável no campo e em áreas urbanas abertas fornecendo às empresas responsáveis uma ferramenta gratuita de gestão para monitorarem as condições térmicas de seus funcionários, evitando o adoecimento dos trabalhadores e as perdas econômicas decorrentes destes infortúnios.

Ambientes quentes e demasiado esforço físico causam desequilíbrio térmico do corpo, alterando a temperatura interna, possibilitando o aparecimento das doenças do calor. Dados do DIEESE de 2013 mostram que mais de 15 milhões de trabalhadores podem ser monitorados somente na área rural.

De acordo com os idealizadores, havia uma demanda da sociedade, em especial do Ministério Público de Campinas, que preocupados com o número de adoecimentos e mortes dos trabalhadores, solicitaram à Fundacentro, o desenvolvimento de um instrumento capaz de prevenir estes eventos infortúnios na cultura de cana-de-açúcar.

Neste sistema de monitoramento, os usuários podem obter os seguintes dados: valor do IBUTG estimado de hora em hora, a taxa metabólica média dos trabalhadores, informações sobre as medidas de prevenção e controle, entre elas, o critério de trabalho/descanso.

Desenvolvido com tecnologia avançada, o software possui fórmulas e equações matemáticas que utilizam dados provenientes das estações meteorológicas do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), parceiro da Fundacentro, o qual transfere os dados do seu servidor em Brasília para o servidor da Fundacentro em São Paulo.

Software poderá ser usado no celular
O próximo passo de desenvolvimento do software será a criação de versões para os sistemas operacionais Androide, Apple e Windows, o que permitirá o acesso por meio de celulares. Para os engenheiros, a criação de mais essa ferramenta poderá melhorar e ampliar o monitoramento da exposição dos trabalhadores ao calor.

Neste mesmo sentido, a Fundacentro acaba de finalizar a elaboração da Norma Técnica que subsidiará a melhor caracterização de insalubridade devido à exposição ao calor nos trabalhos a céu aberto. Contudo, ressalta-se que o software “sobrecarga térmica” não deve ser usado para a caracterização de insalubridade, pois o Anexo 3 da NR 15 estabelece que, para esse fim, o valor do IBUTG tem que ser calculado por meio de medidas realizadas com termômetros específicos no local onde permanece o trabalhador.

Importância do software no mundo acadêmico
Além do desenvolvimento do software para os sistemas Androide, Apple e Windows, está prevista para 2015, a ampliação do seu uso como instrumento de pesquisa para estudos retrospectivos de impactos sobre a saúde de trabalhadores rurais. Sob esta ótica, trabalhos de fim de curso, tais como, Mestrado e Doutorado, baseados nas informações fornecidas pelo software poderão trazer novos conhecimentos sobre a real situação de exposição dos trabalhadores a céu aberto e prover subsídios às empresas e ao Ministério do Trabalho e Emprego para criação de normas e programas, ainda mais efetivos, na prevenção de danos à saúde relativos ao calor intenso.

Dada a importância do tema e como compreender o cenário brasileiro no que se refere à morte de trabalhadores com suspeita de insolação, foi publicado em 2012, pelo “Cadernos de Saúde Pública”, volume 28, o artigo: “Análise da contribuição das variáveis meteorológicas no estresse térmico associada à morte de cortadores de cana-de-açúcar”, de autoria de Daniel Pires Bitencourt (Fundacentro Santa Catarina); Paulo Alves Maia e Álvaro César Ruas. No artigo, os autores analisaram 10 casos de trabalhadores expostos a temperaturas elevadas e como a condição atmosférica pode ser um fator importante a ser considerado na análise das condições de trabalho. Acesse para ler o artigo na íntegra.

Outro periódico cientifico, o International Journal of Biometeorology, também publicou artigo sobre o modelo matemático desenvolvido pelos engenheiros até se chegar ao algoritmo proposto.

Fonte: Fundacentro

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