Por Renata Dal Molin
Todo fim de ano traz o mesmo enredo: dias mais curtos, agendas mais cheias e uma mistura de pressa com celebração. As empresas desaceleram, os compromissos se acumulam e o clima de festa parece dominar tudo.
Mas enquanto o foco se volta para o descanso e as comemorações, os riscos aumentam em silêncio: sobrecargas elétricas de decorações, velas esquecidas, extensões improvisadas, cozinhas em pleno vapor e eventos realizados em locais sem as mínimas condições de segurança.
As estatísticas não mentem.
Nos Estados Unidos, a NFPA aponta que cerca de 30% dos incêndios residenciais acontecem entre dezembro e fevereiro. Só os incidentes ligados a decorações natalinas somam cerca de 800 casos por ano, com prejuízos milionários e vítimas fatais.
No Brasil, os números também assustam. Segundo a Abracopel, foram 949 acidentes elétricos em 2022 e esse número cresceu ainda mais em 2023. O principal motivo? Sobrecargas e instalações improvisadas.
Luzes decorativas conectadas a “Ts”, extensões em cascata, tomadas escondidas sob carpetes, fios mal isolados e a falsa sensação de que “é só por uns dias”.

Foto: Freepik
Mas o incêndio nunca começa grande.
Ele começa no detalhe: um circuito sobrecarregado, um disjuntor ignorado, um fio desencapado, uma cortina perto demais de uma lâmpada.
E quando o cansaço de dezembro se mistura à pressa, o risco se multiplica.
É nesse ponto que você precisa de atenção!
O primeiro passo é analisar antes da festa.
Na escolha do local: peça para verificar se o espaço possui AVCB ou CLCB válidos, se há rotas de fuga sinalizadas, iluminação de emergência funcionando e extintores compatíveis.
São detalhes que muitos não percebem, mas que, em um momento crítico, salvam vidas.
Em seguida, tenha cuidado dobrado com o uso de equipamentos temporários. Luzes decorativas e sistemas de som são os vilões clássicos de fim de ano. Evite o uso de adaptadores em cascata, não ultrapasse a capacidade das tomadas e jamais esconda cabos sob tapetes, porque o fogo não dá segunda chance.
E, por último, entenda sobre a operação do evento:
- quem será o responsável por acionar o Corpo de Bombeiros em caso de emergência?
- as saídas estão desobstruídas?
- há alguém com noções básicas de evacuação ou primeiros socorros?
Essas são perguntas simples que quase ninguém faz até o dia em que elas fazem falta.
Quando você entende que a segurança também é sua responsabilidade, você está salvando vidas, evitando prejuízos e reforçando a confiança que as pessoas depositam em você.
A engenharia de prevenção é, acima de tudo, uma engenharia de cuidado e dezembro é o mês em que esse cuidado precisa falar mais alto.
O fim de ano é uma celebração do que passou, mas também um lembrete de tudo o que podemos fazer melhor.
Em um país onde os incêndios ainda começam em detalhes pequenos, ser a pessoa que enxerga o invisível é o que diferencia o bom do essencial.
Prevenção não é uma pauta de emergência.
É uma agenda permanente e, neste fim de ano, o maior presente que podemos dar é um ambiente seguro para quem celebra.
RENATA DAL MOLIN

Foto: R Dal Molin Engenharia/Divulgação
Engenheira Civil e de Segurança do Trabalho, especializada em Engenharia Contra Incêndio, com mais de dez anos de experiência. Responsável pela aprovação de mais de 700.000m² em projetos de prevenção contra incêndios. Fundadora da comunidade PrevWorld, e host do primeiro podcast brasileiro sobre prevenção contra incêndios, PrevCast, e idealizou a PrevWeekend, a primeira imersão de prevenção contra incêndios no Brasil. E CEO da R Dal Molin Engenharia. Meu trabalho é dedicado à educação e conscientização em segurança contra incêndios. renata@rdalmolin.com


