Recorrentemente falamos aqui da Norma Regulamentadora 17 (NR-17), que trata de ergonomia e também está na pauta das mudanças recentes da NR-1, sobre riscos psicossociais. Afinal, alguém que labora em um ambiente insalubre, consequentemente sentirá problemas mentais e físicos.
Pensar na estrutura antes mesmo de remediá-la é um meio que ajuda todas as pessoas que estão na empresa, indústria e outros meios de trabalho. Temos, portanto, a chamada ergonomia de concepção, que nada mais é projetar espaços e políticas internas que se adequem às condições de quem percorre neles, unido o olhar técnico e a experiência diária para promover discussões e mudanças em prol de uma jornada mais saudável e ergonomicamente viável.
Ergonomia e saúde
Segundo um levantamento da consultoria Gallup, divulgado pela Rádio Itatiaia e intitulado “Estado do Ambiente de Trabalho Global” (State of the Global Workplace, 2025), ambientes envolventes, nos quais o trabalhador se sente ouvido, são mais produtivos e criativos.
Ao dar a oportunidade de ouvir as necessidades e checar, por exemplo, as condições de iluminação, ruído, posicionamento de estações de trabalho ou mesmo como são delegadas as tarefas, trabalhadores podem reivindicar essas modificações e, na outra ponta, empresas evitam acidentes, absenteísmo e economizam com indenizações, por exemplo.
Escuta ativa e adaptações nos projetos
Thiago Lorenzi também concorda que ao aplicar os princípios ergonômicos dentro as organizações, aumenta-se o engajamento e a retenção dos funcionários. O ergonomista conta que pesquisas revelam uma diminuição de 48% no turnover e de 58% no absenteísmo, ou seja, essa prática não apenas é importante para a saúde, mas também para a moral dos trabalhadores, argumenta.
“A ergonomia de concepção é uma estratégia economicamente vantajosa que vai além da prevenção de lesões. Melhora a eficiência operacional, a qualidade do trabalho e a satisfação dos funcionários, proporcionando um ROI substancial. Priorizar a ergonomia desde o início do design de máquinas e equipamentos é essencial para alcançar esses benefícios”, escreve o especialista, em artigo a RS Data, especializada em software de SST.
Já Eugênio Diniz, tecnologista da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), e Francisco Antunes, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), participantes do “Dicionário de Ergonomia e Fatores Humanos: o contexto brasileiro em 110 verbetes” (Abergo, 2024, íntegra aqui), culpar as pessoas, independentemente do nível hierárquico, por meio do “uso enviesado do termo ‘erro humano’” pode se tornar uma forma de evitar passivos trabalhistas ou responder a um ‘clamor social’.
Os organizadores da publicação, que traz práticas e conceitos de ergonomia no Brasil, alertam que ao ter esse pensamento limitado, acaba-se por impedir que a prevenção de acidentes se torne preventiva de fato, além de dificultar a melhoria e a inovação do processo de gestão do trabalho.


