Home INC - Prevenção de Incêndios Fake news sobre o chuveiro elétrico: menos achismo, mais engenharia

Fake news sobre o chuveiro elétrico: menos achismo, mais engenharia

Artigo do Engenheiro Eletricista Rogerio Moreira Lima aborda que evitar incêndios elétricos requer projetos de engenharia que considerem o efeito Joule em 110V, além do uso estratégico de dispositivos AFDD e DR para a proteção da vida

Por Rogério Moreira

 

O chuveiro elétrico é amplamente utilizado no Brasil, mas em torno dele circulam muitas informações equivocadas. O risco real não está simplesmente no valor da tensão, mas na corrente elétrica que pode atravessar o corpo humano em uma situação de choque. Correntes da ordem de 30 mA (0,03 A) já são suficientes para provocar fibrilação cardíaca, configurando risco potencialmente fatal.

É fundamental distinguir dois aspectos distintos da segurança elétrica, que frequentemente são confundidos. No caso do choque elétrico, a corrente que atravessa o corpo humano depende da tensão aplicada e da impedância do corpo da pessoa que sofre o contato. Assim, quanto maior a tensão do circuito, maior tende a ser a corrente que flui pelo corpo em um contato fase-terra, elevando o risco de lesões graves ou morte. Por esse motivo, do ponto de vista do choque elétrico, circuitos em 220 V apresentam risco mais elevado do que circuitos em 110 V. Entretanto a corrente que circula no circuito elétrico está associada principalmente aos riscos de aquecimento da instalação, que podem provocar incêndios por sobrecarga ou curto-circuito.

 

Funcionamento do chuveiro elétrico

Feita essa distinção, é possível analisar corretamente os riscos associados à instalação elétrica. Para uma mesma potência, um chuveiro operando em 110 V exige maior corrente no circuito do que um em 220 V. Essa corrente mais elevada impõe maior esforço aos cabos, conexões e dispositivos de proteção, ampliando os riscos associados ao aquecimento da instalação elétrica e, consequentemente, ao risco de incêndios por sobrecarga.

Esse aquecimento decorre do efeito Joule, fenômeno no qual a passagem da corrente elétrica gera calor nos condutores. Um ponto essencial é que esse aquecimento não cresce de forma proporcional, mas é diretamente proporcional ao quadrado da corrente elétrica, tornando-se muito mais intenso à medida que a corrente aumenta. Na prática, quando a corrente no circuito dobra, o aquecimento nos cabos e conexões se torna quatro vezes maior. Por essa razão, em instalações em 110 V, o dimensionamento correto dos cabos, das conexões e dos disjuntores torna-se ainda mais crítico.

O funcionamento do chuveiro elétrico baseia-se justamente no efeito Joule, que transforma energia elétrica em calor quando a corrente atravessa a resistência. A água que passa pela resistência é aquecida quase instantaneamente, permitindo o banho quente em poucos segundos. Em resistências finas, como as utilizadas em chuveiros, o aquecimento é rápido e eficiente, garantindo resposta térmica adequada ao uso doméstico.

Como engenheiro eletricista, preocupa-me a disseminação de afirmações de supostos especialistas que classificam 220 V como alta tensão. Tecnicamente, essa classificação é incorreta. De acordo com a ABNT NBR 5410, as tensões utilizadas em instalações residenciais são consideradas de baixa tensão. A alta tensão, por sua vez, é definida como tensões acima de 1.000 V em corrente alternada e acima de 1.500 V em corrente contínua, conforme a NR-10 (Norma Regulamentadora de Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade).

 

Engenheiro legalmente habilitado

A segurança elétrica no Brasil é clara e rigorosa e se baseia, antes de tudo, na correta aplicação dos dispositivos de proteção e das medidas de engenharia. Os disjuntores têm papel fundamental na proteção das instalações contra curto-circuitos e sobrecargas, interrompendo o circuito sempre que a corrente ultrapassa valores seguros. No entanto, essa proteção só é efetiva quando os cabos estão corretamente dimensionados para suportar a corrente nominal do disjuntor. Caso contrário, mesmo com o disjuntor instalado, o cabo pode aquecer excessivamente antes da atuação do dispositivo, podendo provocar incêndios. Os DPS, Dispositivos de Proteção contra Surtos, são responsáveis por proteger a instalação contra surtos de tensão, provocados principalmente por descargas atmosféricas e manobras na rede elétrica, reduzindo danos aos equipamentos e à própria instalação. O aterramento adequado é indispensável para garantir a equipotencialização das massas metálicas, o correto escoamento de correntes de falta e o funcionamento eficaz dos dispositivos de proteção, reduzindo tensões perigosas e aumentando a segurança da instalação como um todo, conforme a ABNT NBR 5410 e a ABNT NBR 5419.

Complementando essas proteções, o uso do Dispositivo Diferencial Residual, DR ou DDR, de 30 mA (0,03 A) é obrigatório em áreas molhadas e em áreas externas às edificações, pois o aterramento, isoladamente, não garante proteção. O DDR atua interrompendo o circuito quando surge uma corrente perigosa atravessando o corpo humano, independentemente da corrente nominal do equipamento instalado, em consonância com a ABNT NBR 5410 e a NR-10.

No contexto da evolução das normas técnicas, merece destaque a discussão sobre a inclusão do AFDD, Dispositivo de Detecção de Falha de Arco, na próxima revisão da ABNT NBR 5410, medida amplamente aguardada pelos engenheiros eletricistas. As falhas de arco elétrico, muitas vezes intermitentes e difíceis de serem detectadas por disjuntores convencionais e dispositivos diferenciais, figuram entre as principais causas de incêndios em instalações elétricas. O arco elétrico provoca degradação acelerada dos componentes, carboniza isolamentos e danifica cabos, quadros de distribuição, disjuntores e dispositivos diferenciais, comprometendo a integridade da instalação e impondo riscos severos à segurança das pessoas e do patrimônio. O AFDD atua identificando padrões característicos desses arcos elétricos perigosos e interrompendo o circuito antes que o aquecimento provoque a ignição. Embora ainda não seja obrigatório no Brasil, sua eventual adoção na nova ABNT NBR 5410 representará um avanço significativo na prevenção de incêndios elétricos e reforça a tendência de aprimoramento contínuo da segurança das instalações elétricas residenciais e comerciais.

Acidentes elétricos não acontecem por azar, improviso, fé ou uso de chinelos. O chinelo não garante isolamento elétrico adequado e não deve ser considerado medida de proteção. A grande maioria dos acidentes decorre de não conformidades nas instalações elétricas, do descumprimento das normas técnicas e da ausência de profissionais legalmente habilitados.

A vida vale mais. Em projetos, execuções ou reformas de instalações elétricas, não há espaço para improviso ou achismo. Procure sempre um engenheiro legalmente habilitado. Seguir as normas técnicas não é excesso de zelo, é engenharia aplicada à proteção da vida e do patrimônio.

Foto: Arquivo pessoal

Rogerio Moreira Lima

Engenheiro Eletricista

ABTELECOM, ABEE, ABRACOPEL, CREA-MA, AMC, SENGE-MA, CEM e UEMA

0 FacebookWhatsappEmail

APOIO

A Revista CIPA & INCÊNDIO e o seu Portal de Notícias são publicações da Fiera Milano Brasil, dedicados aos setores de Segurança e Saúde do Trabalho (SST) e à Prevenção e Combate a Incêndios

CONTATO

Grupo Fiera Milano Brasil

Av. Angélica, 2491 – 20º andar
cjs 203/204 – CEP: 01227-200
São Paulo – Brasil

+55 (11) 5585.4355

+55 (11) 3159-1010

www.fieramilano.com.br

 

redacao@fieramilano.com.br

anuncio@fieramilano.com.br

 

NEWSLETTER

Copyright @2025  – Portal e Revista CIPA & INCÊNDIO

Site por: Código 1 TI

NEWSLETTER

Ao assinar a newsletter, você aceita receber comunicações do Grupo Fiera Milano Brasil e de seus parceiros, e concorda com os termos de uso e com a Política de Privacidade deste serviço.