Por Saulo Cerqueira de Aguiar Soares
Médico do Trabalho, Advogado, Teólogo, Professor Adjunto da UFPI, Titular da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social e Pós-Doutor. Coordenador do livro Medicina do Trabalho e Segurança – Ed. CRV
A Geração Z está transformando radicalmente os ambientes de trabalho ao desafiar paradigmas estabelecidos e impor uma nova visão pautada no respeito, na transparência e na valorização integral do ser humano. Crescidos na era digital e imersos em uma cultura de informação instantânea, esses profissionais carregam uma identidade única que exige mudanças profundas nas relações corporativas e na gestão das organizações.
Os jovens profissionais da Geração Z rejeitam, de forma contundente, práticas abusivas e hierarquias rígidas que, por décadas, minimizaram o potencial humano. Eles não aceitam maus-tratos e visões ultrapassadas, exigindo que as empresas se modernizem e passem a priorizar a dignidade e o bem-estar. Ao fomentar uma cultura digital pautada na transparência e nos direitos individuais, essa geração força uma revisão crítica de políticas internas, resultando em ambientes de trabalho mais justos, colaborativos e abertos ao diálogo.
Empresas progressistas têm reconhecido que investir na saúde mental dos colaboradores é fundamental para garantir produtividade e satisfação. Programas de apoio psicológico, pausas estratégicas durante o expediente e ações preventivas contra o estresse são medidas essenciais para manter o equilíbrio emocional. A valorização da inclusão, por sua vez, rompe barreiras e favorece a diversidade, enriquecendo a troca de experiências e estimulando a inovação. Assim, organizações que se adaptam a essa nova demanda não apenas melhoram seu clima organizacional, mas também criam bases robustas para o crescimento sustentável.
Em um contexto em que a autenticidade e a criatividade são primordiais, a Geração Z valoriza intensamente modelos de trabalho flexíveis. A rejeição ao controle presencial rígido — como o uso de ponto biométrico eletrônico — reflete a crença de que a qualidade dos resultados e a eficiência das entregas superam a simples presença física. Esse realinhamento do foco — do tempo de trabalho para a entrega de resultados — favorece modelos meritocráticos e impulsiona um ambiente dinâmico, onde o feedback constante e o reconhecimento mútuo promovem a aprendizagem contínua e a agilidade na tomada de decisões.
Nesse novo cenário, o médico do trabalho assume um papel estratégico na promoção de ambientes saudáveis e produtivos. Além de monitorar condições ergonômicas e prevenir riscos psicossociais, esse profissional investe em programas de qualidade de vida que ampliam o bem-estar físico e mental dos colaboradores. Ao promover campanhas de saúde, oferecer suporte contínuo e desenvolver estratégias eficazes para a melhoria da qualidade de vida, o médico do trabalho integra cuidados médicos à gestão de pessoas — uma convergência que tem se mostrado vital para que as organizações permaneçam competitivas e modernas.
Enquanto grandes empresas privadas se reinventam para atender às exigências da Geração Z — criando ambientes inclusivos e flexíveis —, as instituições públicas brasileiras continuam presas a práticas obsoletas. Nessas organizações, a gestão recorre frequentemente a arranjos políticos, nos quais decisões se baseiam em interesses pessoais, e não em critérios técnicos ou meritocráticos. Em muitos casos, os processos seletivos para cargos de liderança já trazem vencedores predestinados, um sintoma claro da cultura de corrupção que permeia o setor público no país. Esse modelo constitui um jogo de influência e demonstração de poder por meio da ocupação de cargos, corrompendo a própria essência do serviço público. Tal prática gera um ambiente de trabalho tóxico, desmotivando os profissionais e comprometendo a eficiência dos serviços prestados à população.
Se o setor público não se transformar urgentemente, corre o risco de continuar alheio às exigências de uma sociedade cada vez mais crítica e exigente. A Geração Z, em sua busca por relações profissionais que respeitem sua integridade e promovam a inovação, provavelmente optará pelo empreendedorismo em vez de se submeter a sistemas desatualizados e humilhantes. Essa nova geração clama por transparência e equidade, e não aceitará mais fazer parte de estruturas que desvalorizam seus talentos e comprometem sua dignidade.
A entrada da Geração Z no mercado de trabalho representa mais do que uma simples mudança geracional: é uma verdadeira revolução que redefine as regras do jogo. Ao priorizar a saúde mental, a inclusão, a flexibilidade e a meritocracia, essa nova onda profissional impulsiona a criação de ambientes que valorizam o ser humano em sua totalidade. O papel do médico do trabalho e o investimento em programas de qualidade de vida são essenciais para consolidar essa transformação, garantindo que as organizações não apenas se adaptem, mas prosperem em um cenário moderno e ético.
Enquanto o setor privado avança rumo a essa nova era, o desafio para as instituições públicas é abandonar práticas obsoletas e construir uma cultura organizacional que converta crises em oportunidades e promova o desenvolvimento contínuo de todos os colaboradores. Em última análise, o futuro do trabalho dependerá da capacidade de integrar valores humanos ao dinamismo dos resultados, criando espaços que realmente respeitem e impulsionem o potencial de cada pessoa.