A Kidde Global Solutions (KGS), empresa especializada em soluções de segurança contra incêndio e proteção à vida, anuncia uma nova era de atuação no mercado global e, em particular, no Brasil. Após sua recente aquisição pelo Grupo Lone Star, a empresa agora dedica seu foco total e exclusivo à área de incêndios, prometendo maior investimento e especialização para o setor.
Com aproximadamente 9 mil funcionários globalmente e um portfólio robusto que inclui a icônica marca Kidde®, a KGS visa proteger pessoas e propriedades em uma ampla gama de aplicações. No Brasil, a empresa mantém uma fábrica em Extrema (MG), onde produz extintores, mangueiras e espumas sem flúor.
A mudança de controle acionário, que se concretizou em dezembro do ano passado, representa um marco para a KGS. Antes parte do Grupo Carrier – e, previamente, da UTC –, a divisão de incêndio operava em um contexto onde o foco principal era o ar-condicionado.
“Essa aquisição é muito positiva para Kidde, pois saímos de um grupo onde o foco não era o incêndio,” explica Ignacio de La Rosa, diretor da KGS no Brasil. “Agora, somos uma empresa independente efocada amplamenteno incêndio. Isso nos ajuda muito.”
No cenário brasileiro e latino-americano, a KGS está particularmente concentrada em setores industriais e grandes estabelecimentos comerciais, como shoppings, data centers e hospitais. “Atendemos mercados que, embora não sejam estritamente industriais, exigem os mesmos protocolos complexos de incêndio devido ao grande público presente,” detalha La Rosa.
Soluções integradas e capital humano como diferencial
A KGS se destaca por sua abordagem como integradora de serviços e soluções. A empresa não apenas oferece produtos de suas próprias marcas, como Edwards e GST para detecção e alarme, mas também incorpora soluções de parceiros para garantir a resposta mais eficaz em cada cenário.
“Nós buscamos soluções de várias empresas e as integramos para apresentar a melhor resposta. Uma solução de incêndio não é só detecção; envolve combate e outras fases”, afirma de La Rosa. A atuação da KGS abrange todas as etapas: do projeto à instalação, treinamento do cliente e pós-venda, incluindo manutenção. “O que fazemos aqui no Brasil é uma característica muito nossa, cobrindo todas as fases,” complementa o diretor.
O capital humano é considerado um pilar essencial. “Nosso grande detalhe é ter uma área de engenharia muito, muito forte. Tenho mais de 50 pessoas, entre engenheiros e técnicos, todas formadas e treinadas na arte do incêndio e prevenção,” destaca Ignacio, enfatizando que essa expertise leva anos para ser construída.
O extintor automotivo e a falta de regulamentação
Um período desafiador para a empresa foi a revogação da lei que exigia extintores automotivos. Apesar das discussões sobre o retorno da obrigatoriedade, o diretor destaca um ceticismo no mercado.
“Hoje, muitos não acreditam na volta da lei, por uma questão de regulamentação. Não está claro para ninguém como ela funciona,” comenta. Ele aponta para a ausência de definições importantes, como a idade dos veículos obrigados, a validade do extintor e, principalmente, a adaptação para carros elétricos, cujo combate a incêndio é totalmente distinto. “Se não houver uma regulamentação da lei, isso vai ter outro problema. Não há empresa no Brasil que consiga produzir 45 milhões de extintores,” alerta.
Data Centers: um futuro próspero e exigente
O Brasil tem se consolidado como um polo estratégico para data centers, impulsionado pela abundância de energia renovável, especialmente no Nordeste, e pela proximidade dos canais de dados marítimos com os Estados Unidos. A demanda por esses centros é impulsionada pelo crescimento exponencial da Inteligência Artificial (IA), que consome vastas quantidades de energia.
“A IA consome uma energia gigantesca. E a IA é o futuro, cada vez mais,” pontua de la Rosa. Os data centers, porém, apresentam riscos de incêndio complexos, que exigem soluções altamente especializadas. “A extinção do fogo não é com água, não é uma extinção simples. É toda especial e específica para não acabar com a máquina também,” explica. A KGS foca em sistemas que detectam incêndios antes mesmo que comecem, monitorando gases e variações de temperatura em baterias de lítio.
A Kidde tem voz ativa na Associação Brasileira de Data Centers (PDC), contribuindo para a definição de especificações e normas. “Um data center que pegou fogo na França em 2017 causou mais de 150 milhões de euros de prejuízo. O segmento precisa ter sistema de combate ao incêndio cada vez mais robusto e funcional para controlar qualquer incidente,” adverte o diretor.
Desafios da indústria brasileira e a cultura da prevenção
Infelizmente, o Brasil ainda enfrenta desafios em relação à regulamentação e atualização das leis de incêndio. “Temos estruturas muito antigas, gargalos. O Brasil não foca muito na indústria, e isso reflete na falta de investimento em segurança,” observa Ignacio de La Rosa.
Ele ressalta que a falta de integração das disciplinas de segurança é um problema comum em muitas empresas. “Não adianta contratar um sistema de detecção e escolher outra empresa fazer o combate. Às vezes, os sistemas nem se conversam”,aponta. A KGS busca conscientizar os clientes sobre a necessidade de um planejamento completo e de sistemas com certificações internacionais (UL e FM). “Ter técnicos treinados, certificados, e a empresa ter produtos certificados e homologados é importantíssimo”, enfatiza.
Segurança residencial: um cenário preocupante
Um contraste notável é a diferença na cultura de segurança residencial entre Brasil e EUA. Nos Estados Unidos, detectores de fumaça residenciais são obrigatórios e amplamente acessíveis. “Na Kidde Global Solutions, 1.1 bilhão de dólares do nosso faturamento global de 2 bilhões vem da Kidde Residential. Temos mais de 50 milhões de residências nos EUA com nosso produto,” revela Ignacio.
No Brasil, a ausência de uma lei que exija esses dispositivos faz com que a KGS não comercialize esses produtos aqui. “Não tem a cultura e não tem nada em lei. Muitos incêndios iniciam e não são percebidos. E quando atinge uma certa quantidade de matéria, não tem mais o que fazer,” alerta o diretor, lamentando que muitos incêndios residenciais diários poderiam ser evitados.
Outro ponto de atenção são os “puxadinhos” e as modificações de layout em hospitais e indústrias sem a devida atualização dos sistemas de incêndio. “A detecção de incêndio em hospital depende de cada área, mas quando mudam o layout, isso acaba jogando por terra todo o sistema que eventualmente existe,” explica de La Rosa, destacando o risco de áreas sem detecção adequada em caso de emergência.
Investimento Contínuo em Tecnologia e o Programa “Conhecimento Salva Vidas”
A KGS investe pesadamente em treinamento e tecnologia para manter sua equipe atualizada com as inovações do setor. A fábrica em Extrema (MG) abriga uma área de treinamento onde técnicos de grandes clientes são capacitados em sistemas específicos.
Além disso, a Kidde desenvolveu o programa “Conhecimento Salva Vidas”, uma iniciativa social que oferece treinamentos gratuitos para bombeiros, universidades, escolas e empresas em todo o Brasil. “Explicamos para as pessoas o que é um incêndio, como começa, como se combate, quais são os princípios e as normas que existem hoje, independentemente da parte comercial,” detalha o diretor.
O objetivo é suprir a carência de conhecimento sobre prevenção e combate a incêndios que, segundo o diretor, raramente é abordada em cursos de engenharia atualmente. “É uma questão social muito interessante que a Kidde pratica, com uma visão bem social mesmo,” conclui.