Por Carlos Reganatti
O trabalhador, dependendo de sua especialidade, está sujeito a diversas fontes de luz, desde aquelas destinadas a garantir uma perfeita visibilidade de sua área de trabalho, que caracterizam a iluminação ambiente em geral, até as fontes de luz que são utilizadas como ferramentas, onde podemos destacar algumas aplicações como inspeção, medição e corte.
A preocupação com a proteção individual e coletiva do trabalhador diante das diversas possibilidades torna-se um fator extremamente importante.
Dentre as diversas fontes de luz às quais o trabalhador pode estar submetido podemos destacar o LASER, ou Laser, forma mais comum como é escrito, que possui características específicas que merecem ser melhor entendidas.
Milhares de trabalhadores sofrem acidentes nos olhos diariamente. Estes acidentes causam desde pequenos incômodos e perda de atenção até danos visuais irreparáveis.
Além da imensa dor para o funcionário e sua família, há o custo de assistência médico-hospitalar, os dias parados e às vezes custos ainda maiores causados por um eventual “segundo acidente”, desencadeado pela perda momentânea de visão durante o acidente original
Vamos abordar neste artigo a Radiação Laser, com o objetivo de alertar o usuário, visto que:
- Não existe no mercado “óculos genéricos para proteção laser”. Cada laser requer uma proteção específica.
- Radiação Laser pode causar danos irreversíveis à visão, à pele e até matar, de acordo com a potência da fonte.
- Radiação Laser pode ser invisível, caso a fonte emita IR, UV ou outro comprimento de onda fora do espectro visível.
- Apesar de o laser ser abordado por normas internacionais, não há condições para definição de CA para esse tipo de proteção, dadas as inúmeras variáveis presentes na configuração de óculos de proteção laser.
- É imprescindível consultar o fabricante do equipamento ou ter documentação clara, segura e oficial sobre a fonte laser para se obter a correta configuração do filtro. Dessa forma, é possível determinar os parâmetros de proteção que o EPI deve possuir.
- Sempre referir-se a fabricantes comprovadamente especializados nesta tecnologia.
Características da luz
A luz é uma parte do espectro de radiação eletromagnética, capaz de estimular os olhos, comumente chamada de radiação visível. Ela é identificada, em sua característica ondulatória, principalmente por sua frequência ou pelo seu comprimento de onda, onde cada comprimento está associado a uma cor específica. A faixa do espectro eletromagnético que corresponde à luz, é chamada de espectro visível. Porém, nos limites desta faixa ainda existem dois componentes que merecem uma grande atenção: a radiação ultravioleta e a radiação infravermelha, como já citado anteriormente.

Figura 1. Espectro visível. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Espectro_vis%C3%ADvel
Outro detalhe interessante é o conceito de fase, que está associado a característica vibratória da luz. Dizemos que uma fonte de luz é coerente quando a luz emitida vibra de uma forma ordenada e incoerente quando as diversas ondas de luz vibram de forma desordenada.
Finalmente, a fonte de luz pode ser policromática, resultando a soma de ondas de luz de diversos comprimentos de onda, diversas cores, ou monocromática, quando é composta de um só comprimento de onda. A luz branca é policromática resultado da soma de todos os comprimentos de onda de radiação visível.
A forma como o conjunto de ondas luminosas se desloca também é importante: pode ser colimado, quando todas as ondas seguem a mesma direção ou disperso, cada onda segue uma direção diferente.

Figura 2. Fonte de luz monocromática coerente e colimado

Figura 3. Fonte de luz monocromática incoerente e colimado

Figura 4. Fonte de luz policromática, colimada

Figura 5. Fonte de luz policromática, dispersa, não colimada
A radiação LASER é monocromática, corresponde a um comprimento de onda emitido de forma coerente, isto é, inalterada no tempo e no espaço. Além disto, o feixe é colimado, isto é, alinhado. Com isto não há perdas com a distância e a capacidade de penetração em superfícies é possível pela concentração de energia em pequena área. Pode ser invisível caso o comprimento de onda esteja na região do ultravioleta (UV) ou do infravermelho (IR).
LASER é a abreviação para:
L ight ………………… (Luz)
Amplification by.….….(Amplificada com)
Stimmulated…………. (Estimulação da)
Emmission of ………… (Emissão de)
Radiation…………… (Radiação)
O laser foi previsto por Einstein no início do Século XX, com o primeiro dispositivo inventado em 1960, por Theodore Maiman.
Outro tipo, o “maser”, menos conhecido que seu irmão “laser”, foi inventado antes (1950), no âmbito das micro-ondas, tendo aplicações científicas e de amplificador do sinal extremamente fraco recebido de espaçonaves.
Princípio de Funcionamento do Laser
Em uma cavidade com gás (CO, CO2, Hélio, Argônio, Xenônio etc.), um cristal (rubi por ex.), um metal (Titânio Safira por ex.) ou um diodo laser (LED) em que elétrons são submetidos a energia eletromagnética, absorvendo-a e passando ao estado excitado, com tendência subsequente de retornar à condição natural. Porém, se o átomo excitado recebe nova radiação, esta estimula o átomo a emitir um fóton e a partir daí há um efeito cascata que resulta na radiação laser.
A radiação produzida ocorre no “ressonador”, formado por dois espelhos. Um espelho é plenamente reflexivo e o espelho oposto permite atravessar uma fração da radiação, constituindo-se assim o laser resultante.

Figura 6. Constituição Elementar de uma Fonte Laser
A emissão do feixe laser pode ser na forma de luz contínua ou pulsada. A radiação pulsada constitui blocos concentrados de energia, espaçados por nanosegundos ou femtosegundos, fazendo as vezes de um “martelete” sobre a superfície onde incide.
A aplicação do Laser é muito ampla. Na indústria é utilizado em corte, furação e gravação de peças. Também é utilizado em limpeza de peças e sistemas de medição.
Alguns detalhes importantes de relativos à utilização do Laser
A radiação laser pode ter concentração de energia suficiente para evaporar tecidos, metais, cerâmicas etc. O olho, por ser sensível à luz, pode sofrer danos irreversíveis mesmo se exposto entre um piscar de olhos à radiação laser direta ou refletida, ainda que seja de baixa potência.
O laser de infravermelho (IR) é invisível e corresponde a energia térmica transmitida a longas distancias. Caso atinja os olhos, esta provoca sobreaquecimento dos tecidos e muitas vezes a exposição a esta radiação só é percebida depois que o dano já está instalado.
Um parâmetro importante para a proteção à radiação laser é a densidade óptica do filtro (lente). Quanto maior a densidade óptica, maior a absorção/reflexão da radiação incidente e melhor é a proteção, apesar da menor transmitância de luz visível.
A densidade óptica é como a escala de dB, isto é, cada unidade corresponde a uma potência de 10. Assim, uma densidade óptica de 3 corresponde à relação 1.000 entre luz transmitida e incidente, enquanto DO 5 corresponde a 100.000 vezes esta relação.
Portanto, além de os óculos serem compatíveis com a fonte laser, sua densidade óptica precisa ser oficialmente declarada para assegurar que a incidência da radiação não atinja a visão do usuário.
Necessidade de medidas de proteção coletiva
Áreas onde se trabalha com laser precisam ser confinadas, pois a reflexão de feixe laser pode levar ao escape da radiação através de fendas, aberturas de portas, janelas etc., atingindo pessoas, animais, outras superfícies ou objetos distantes da fonte.
Para a proteção individual, seguem abaixo os parâmetros essenciais para definição de uma proteção visual contra laser:
Fonte Contínua:
- Potência (Watt)
- Comprimento de Onda (nm)
- Ângulo de divergência (graus/radianos)
Fonte Pulsante
- Potência (Watt)
- Duração do Pulso (ns/ms)
- Energia do Pulso (Joule)
- Frequência (Hz, kHz)
- Comprimento de Onda (nm)
- Ângulo de divergência (graus/radianos)
Portanto – muita atenção –laser não é brinquedo.
Cuidado com as crianças e pessoas desavisadas ou desqualificadas lidando com essa radiação.
O dano pode acontecer quando é tarde demais…
Acidentes – e lesões – não acontecem por acaso:
Acontecem por descaso e/ou falta da correta informação.
Artigo elaborado pelo CTEN ANIMASEG (Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho) – PROTEÇÃO FACIAL
Coordenador: Carlos Reganatti