Por Elaine Gonçalves
Engenheira de Segurança do Trabalho, especialista contra incêndio, Higienista Ocupacional e professora universitária
Você já entrou em uma edificação com AVCB na parede, tudo aparentemente em ordem, mas ao olhar mais de perto notou que os extintores estavam vencidos, as luzes de emergência apagadas ou a bomba de incêndio desligada? Pois é. Ter o documento de aprovação do Corpo de Bombeiros é importante — mas não é sinônimo de segurança garantida.
A aprovação indica que, na data da vistoria, a edificação atendia às exigências mínimas previstas em norma. Mas e depois disso? O tempo passa, as condições mudam, e se não houver manutenção e acompanhamento, o que era seguro se transforma em risco.
A diferença entre estar aprovado e estar protegido
Ter um AVCB ou CLCB válido comprova que a edificação estava regular no momento da vistoria, ou seja, que os equipamentos estavam instalados e funcionais, a documentação estava correta e as medidas previstas no projeto técnico foram implementadas. Porém, isso não significa que tudo permanecerá assim ao longo do tempo.
A segurança contra incêndio é dinâmica. Envolve manutenção, uso adequado dos sistemas e uma rotina de inspeções.
Sem isso, a edificação pode perder sua capacidade de resposta em caso de emergência, mesmo mantendo a aprovação formal em dia.
Situações comuns que comprometem a segurança
É muito comum encontrarmos falhas em edificações já aprovadas. Entre as situações mais recorrentes, destacam-se:
- – Extintores vencidos ou descarregados;
- – Bombas de incêndio desligadas ou com defeito;
- – Sprinklers obstruídos por forros ou luminárias;
- – Portas corta-fogo travadas com calços ou amarradas;
- – Alarmes silenciados ou desativados;
- – Mudanças internas sem atualização no projeto aprovado.
Essas falhas podem colocar vidas em risco, além de invalidar a validade do próprio AVCB, caso sejam constatadas em uma vistoria de rotina do Corpo de Bombeiros.
A responsabilidade técnica não termina com a aprovação
Um ponto essencial para nós, engenheiros e arquitetos que atuam na área de segurança contra incêndio, é entender que a responsabilidade técnica vai além da elaboração do projeto
. Devemos orientar os proprietários e gestores das edificações sobre a necessidade de manter os sistemas funcionando, realizar manutenções regulares e revisar o projeto em caso de reformas ou mudanças de uso.
A segurança é um compromisso contínuo.
E isso envolve também a cultura de prevenção: treinar equipes, realizar simulados, testar equipamentos e documentar todas as ações realizadas.
Boas práticas que fazem a diferença
Algumas medidas simples podem manter a segurança ativa mesmo após a aprovação:
- – Manutenção preventiva conforme periodicidade de norma;
- – Testes mensais de bombas, alarmes e luzes de emergência;
- – Inspeções visuais semanais pela brigada interna;
- – Atualização do projeto técnico sempre que houver reforma;
- – Treinamentos periódicos com simulado de evacuação.
Essas práticas não apenas mantêm a funcionalidade do sistema como reduzem riscos e evitam penalidades em fiscalizações futuras.
Segurança de verdade se mantém no dia a dia
Ter um projeto aprovado é apenas o começo. A segurança real exige constância, responsabilidade e comprometimento.
Não adianta ter todos os sistemas instalados se eles não estiverem funcionando quando mais precisarmos.
Por isso, mais do que buscar a aprovação formal, nosso papel como profissionais é garantir que a segurança projetada continue operante com o passar do tempo.
Você tem acompanhado de perto os sistemas que já aprovou?
Sua responsabilidade em transferir o conhecimento e os cuidados para manutenção e inspeções dos sistemas está ativa, mesmo depois do AVCB emitido?
Nesse sentido, é fundamental que a gente compartilhe com o cliente não apenas o projeto, mas também o conhecimento sobre as rotinas de inspeção, manutenção preventiva e funcionamento dos sistemas.
Afinal, garantir que tudo esteja operante não é apenas uma exigência legal, mas um compromisso com a preservação da vida e do patrimônio.
Quer saber mais sobre segurança contra incêndio e boas práticas de projeto? Continue acompanhando minha coluna na revista CIPA&INCÊNDIO e me siga nas redes sociais @elainefagoncalves.