O relatório “Revolucionar a segurança e saúde no trabalho: O papel da IA e da digitalização”, lançado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) para o Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho 2025, representa um passo histórico na forma como governos, empresas e trabalhadores devem encarar o papel das tecnologias emergentes no ambiente laboral. Com base em ampla revisão de estudos, casos práticos e experiências globais, o documento mapeia tendências, oportunidades e riscos, propondo ações coordenadas para que a inovação tecnológica ande lado a lado com a preservação da saúde e da vida.
A OIT observa que a revolução digital não se limita a novas máquinas ou softwares: trata-se de uma mudança profunda na maneira como o trabalho é concebido, organizado e monitorado. Inteligência Artificial (IA), robótica avançada, sensores inteligentes, sistemas preditivos e gestão por algoritmos já estão alterando cadeias produtivas inteiras. O potencial de melhoria da produtividade e da segurança é enorme, mas, sem gestão adequada, podem surgir problemas sérios, como sobrecarga mental, perda de postos de trabalho e novas desigualdades.
Objetivos e relevância do relatório
O documento tem como missão servir de referência global para orientar políticas públicas, normas regulatórias, iniciativas empresariais e práticas de prevenção. Entre seus principais objetivos, destacam-se:
► Demonstrar como tecnologias emergentes podem reduzir acidentes, prevenir doenças e melhorar condições de trabalho.
► Alertar para riscos físicos, ergonômicos, psicossociais e de privacidade decorrentes da digitalização.
► Oferecer um quadro de ações para integrar inovação e prevenção de forma harmoniosa.
► Fornecer recomendações específicas para diferentes contextos socioeconômicos e setoriais.
O relatório é especialmente relevante para países em desenvolvimento, nos quais pequenas e médias empresas enfrentam barreiras para acessar e implementar soluções tecnológicas de forma segura. A OIT alerta que a transição digital pode ampliar desigualdades se não houver políticas de inclusão, programas de capacitação e investimentos direcionados.
A análise da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revela dados significativos sobre o impacto da tecnologia na segurança e saúde ocupacional. A automação, por exemplo, pode substituir 75 milhões de empregos globalmente, ao mesmo tempo que cria 427 milhões de novas posições. Nesse cenário, as mulheres estão mais de duas vezes mais expostas ao risco de automação do que os homens, especialmente em setores de atendimento.
A tecnologia também já atua diretamente na prevenção de riscos. Sensores e dispositivos vestíveis, por exemplo, são capazes de monitorar em tempo real riscos ergonômicos, ambientais e fisiológicos. Além disso, ferramentas de vídeo e inteligência artificial (IA) já identificaram mais de 15 milhões de comportamentos inseguros em ambientes corporativos. Esses números indicam que o impacto da tecnologia na segurança e saúde no trabalho é inevitável e profundo, demandando respostas rápidas e estratégicas.
Os governos e as empresas já estão agindo para garantir que a inovação tecnológica reforce, em vez de comprometer, a Segurança e Saúde no Trabalho (SST). Para isso, estão revisando leis para regulamentar a segurança da robótica e a interação entre humanos e máquinas. Além disso, criam normas sobre o direito à desconexão para evitar o burnout digital e promovem campanhas globais de conscientização sobre riscos e boas práticas. A SST também está sendo integrada em políticas de transição digital e inteligência artificial.
Nesse contexto, projetos-piloto com tecnologias de monitoramento em tempo real e manutenção preditiva estão sendo implementados. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) ressalta que essas ações precisam de acompanhamento contínuo, com avaliações de impacto e adaptações constantes para serem eficazes.
Cenário no Brasil
No Brasil, a aplicação dessas recomendações pode transformar setores estratégicos. Mineração, construção civil, logística, agricultura e transporte têm potencial para ganhos expressivos de segurança e eficiência. No entanto, persistem desafios como a capacitação de trabalhadores para uso seguro e eficiente das tecnologias, a inclusão de pequenas empresas na transição digital, a redução das desigualdades regionais no acesso à inovação.
Para o país, a transição digital na SST é também uma oportunidade de fortalecer cadeias produtivas e melhorar a competitividade global.
Entre as orientações para empresas e profissionais prevencionistas, a OIT recomenda um conjunto de medidas práticas: realizar avaliações de risco periódicas considerando tecnologias digitais; implementar controles preventivos conforme hierarquia de proteção; garantir proteção de dados e privacidade; envolver trabalhadores em todas as fases de implantação; promover treinamento contínuo e adaptado ao perfil do público; revisar políticas de SST regularmente para acompanhar evolução tecnológica.
Para trabalhadores, a OIT orienta que os profissionais devem buscar protagonismo na transição digital investindo em competências digitais e conhecimento sobre novos equipamentos; participando de treinamentos e processos de implantação tecnológica; defendendo condições seguras e éticas no uso de IA e monitoramento. Essa postura ativa aumenta a segurança individual e coletiva, além de fortalecer a posição do trabalhador no mercado.
O relatório conclui que a digitalização deve ser guiada por princípios de segurança, saúde e inclusão. Isso requer:
– Governança clara integrando SST, direitos humanos e inovação.
– Parcerias entre governo, empresas, sindicatos e universidades.
– Monitoramento contínuo dos efeitos das tecnologias.
– Flexibilidade para ajustar regulamentos e práticas conforme novas evidências.
No Brasil, isso significa investir em pesquisa aplicada, qualificação de ponta e políticas públicas robustas. A OIT deixa claro: não basta adotar tecnologia, é preciso redesenhar o trabalho para que o progresso digital seja também progresso humano.
O relatório completo pode ser acessado neste link:
https://www.ilo.org/sites/default/files/2025-04/ILO_Safeday25_Report_r8-FULL-PT.pdf