A maioria das empresas ainda trata os passivos trabalhistas como urgências pontuais — uma ação judicial inesperada ou um fechamento de balanço. Contudo, essa postura reativa, que ignora a revisão contínua das obrigações, pode gerar prejuízos de milhões, alerta Paulo Souza, sócio da área de Cálculos Judiciais da Bernhoeft.
Segundo o especialista, o custo de ignorar a revisão técnica vai além do financeiro, atingindo o planejamento estratégico e a reputação corporativa. Transformar a revisão de passivos em uma prática contínua é, na verdade, uma decisão de governança.
“O que poucas organizações percebem é que esse comportamento reativo pode custar caro, e não apenas financeiramente: os riscos se estendem ao planejamento estratégico e até à reputação corporativa,” afirma Souza.
A fragilidade dos cálculos e as distorções
O especialista aponta que a raiz de boa parte dos problemas está na fragilidade dos cálculos apresentados nas ações. Os “erros invisíveis” se acumulam e acabam inflando os valores devidos.
Entre as distorções mais comuns, Souza cita:
- Aplicação incorreta de índices de correção.
- Falhas na apuração de horas extras.
- Inclusão de verbas indevidas sem respaldo legal.
- Interpretações equivocadas das decisões judiciais.
A ausência de uma revisão criteriosa mina a estratégia de defesa da empresa. “Quando não há uma revisão criteriosa, esses erros se acumulam, inflando os valores devidos e minando a estratégia de defesa,” explica.
O papel do especialista e da tecnologia
A atuação de um especialista em cálculos judiciais é considerada fundamental. Mais do que apenas revisar contas, esse profissional atua como um parceiro estratégico, detectando inconsistências e oferecendo uma visão técnica que fortalece as defesas e as propostas de acordo.
“Mais do que revisar contas, esse profissional atua como um parceiro estratégico, detectando inconsistências, ajustando erros e oferecendo uma visão clara e técnica aos advogados e gestores. Isso fortalece não apenas as defesas judiciais, mas também as propostas de acordo, que passam a ser baseadas em dados reais, não em suposições,” destaca o sócio da Bernhoeft.
Setores com alta exposição trabalhista, como construção civil, logística, mineração e varejo, exigem um cuidado ainda maior, devido à complexidade dos regimes de contratação, alta rotatividade e adicionais legais (insalubridade e periculosidade).
A boa notícia é que a tecnologia está facilitando essa abordagem. Ferramentas de automação e Inteligência de Dados (BI) permitem que os gestores tenham uma visão integrada dos riscos, possibilitando decisões mais seguras e rápidas, além de identificar padrões e gargalos.
Caso real: redução de R$ 30 milhões no balanço
Para ilustrar o potencial da revisão, Paulo Souza cita um caso real de uma empresa de tecnologia que acumulava provisões trabalhistas elevadas, o que travava seus investimentos.
Com uma revisão detalhada de cerca de 700 processos em apenas três meses, a empresa conseguiu identificar e ajustar as provisões, resultando em uma redução de R$ 30 milhões no balanço.
“Além do alívio imediato no balanço, a ação reforçou a governança e possibilitou um reposicionamento jurídico e estratégico,” comenta Souza.
O especialista conclui que revisar passivos é uma medida de inteligência corporativa. “Quando técnica, tecnologia e planejamento caminham juntos, a empresa não só reduz riscos e custos, como transforma incertezas jurídicas em oportunidades de gestão eficiente.”