Estima-se que haja mais de 10 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência auditiva no Brasil e muitas delas dependem da Língua Brasileira de Sinais (Libras) como forma de se expressar, tanto é que, desde 24 de abril de 2002, o método é reconhecido (Lei 10.436).
Na outra ponta, há uma demanda crescente de intérpretes, com destaque no período de restrições pela Covid-19, em que as aulas foram remotas, e atualmente na programação televisiva, por exemplo. Como consequência, existem casos de sobrecarga desses trabalhadores, causando lesões, percepção de dor, cansaço e impacto nas atividades cotidianas, bem como um aumento significativo da carga física e emocional.
Para Renato Dente Luz, doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP), em evento online pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar, 2021), se faz necessária a criação de mais dispositivos de promoção, prevenção e tratamento de saúde física, mas principalmente mental, desses profissionais.
“Há uma grande demanda não apenas para interpretar, mas acolher, inclusive pessoas surdas que não tem uma noção plena de Libras, ou seja, aquele surdo não apenas linguístico. Também há uma sobrecarga de tempo, de revezamento entre colegas e também um impacto psicológico nas condições de atuação e dinâmica entre esses pares e a instituição que trabalham”, salienta o psicólogo bilíngue (Português-Libras).
Excesso de trabalho dos intérpretes de Libras
Um levantamento (2022, íntegra aqui) feito pelos pesquisadores Neuma Chaveiro, Maria Alves Barbosa, Diego Maurício Barbosa, Leandro Vieira Lisboa (Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde), Soraya Bianca Reis Duarte (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás) e Dolors Rodríguez-Martín (Universidade de Barcelona, Espanha), com 12 intérpretes de Libras revelou que os participantes apresentaram uma sobrecarga de trabalho, acentuando distúrbios osteomusculares.
“Os profissionais trabalhavam remotamente por conta da pandemia, cujo regime permitiu flexibilização a partir do domicílio desse trabalhador. Houve aumento expressivo da demanda física e psicológica, devido às atividades a serem cumpridas e por estarem ausentes os limites entre ambiente de trabalho e casa”, destaca o estudo, publicado na revista da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro).