Por Cristina Perez
Em setores industriais de alto risco, como energia, petróleo e gás, mineração e manutenção elétrica, a proteção térmica dos trabalhadores é um fator determinante para a preservação da vida, a conformidade legal e a sustentabilidade operacional.
Este artigo explora, de forma aprofundada, a importância do uso das vestimentas de proteção térmica, discutindo fundamentos técnicos, normativos e práticos, além de apresentar uma análise de impacto na cultura de segurança organizacional.
As organizações operam cada vez mais sob condições críticas que exigem níveis elevados de controle de risco. Nesse contexto, a exposição a fontes térmicas de alta intensidade, como arcos elétricos, é uma ameaça constante. O uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) não é apenas uma exigência legal, mas uma estratégia vital de prevenção à vida.
As vestimentas representam um avanço significativo na engenharia de proteção individual. Elas são desenvolvidas com tecnologias têxteis inovadoras que permitem suportar a energia térmica liberada de um arco elétrico em frações de segundo, sem comprometer a integridade do trabalhador.
Fundamentação técnica: o que torna uma vestimenta de proteção térmica eficiente?
As vestimentas não são uniformes comuns. Elas são projetadas com tecidos cuja resistência térmica atende a requisitos específicos de desempenho definidos por normas e pela legislação vigente. São confeccionadas com costuras reforçadas e aviamentos diferenciados, que também oferecem proteção térmica.
O principal indicador de desempenho é o ATPV (Arc Thermal Performance Value), medido em cal/cm², que representa a quantidade de energia térmica que o tecido pode suportar antes que o usuário sofra queimaduras de segundo grau.
Além disso, as vestimentas devem apresentar:
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Estabilidade dimensional sob calor;
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Durabilidade mecânica;
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Conforto para uso prolongado.
Esses fatores tornam as vestimentas de proteção térmica não apenas protetivas, mas também viáveis para uso durante a atividade laboral.
Contextos de risco: onde e por que utilizar
O arco elétrico é um fenômeno gerado pela ionização de gás como consequência de uma conexão elétrica entre dois eletrodos de diferentes potenciais, entre fases ou entre uma fase e o terra.
Legislação e normas aplicáveis
A obrigatoriedade do uso de EPIs térmicos está prevista em diversas normas nacionais e internacionais. No Brasil:
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NR-6 determina que cabe às empresas fornecer gratuitamente EPIs adequados aos riscos.
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NR-10 especifica a necessidade de proteção para trabalhos com eletricidade.
Normas técnicas que amparam a especificação e certificação dessas vestimentas incluem:
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ASTM F1506: Performance de tecidos resistentes à chama;
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ABNT NBR IEC 61482-2: Ensaio contra arco elétrico;
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NFPA 2112: Proteção contra fogo repentino (flash fire);
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ABNT NBR ISO 11612: Roupas para proteção contra calor e chama.
A conformidade com essas normas assegura que o EPI realmente ofereça a proteção esperada em campo.
Benefícios organizacionais do uso correto
Proteção da vida e redução de passivos
Empresas que negligenciam o uso de EPIs enfrentam altos custos com indenizações, processos trabalhistas, multas e perda de produtividade.
Conformidade legal e imagem corporativa
Estar em conformidade com a legislação não é apenas uma obrigação, mas uma demonstração de responsabilidade social. Organizações seguras são mais valorizadas por seus clientes, investidores e colaboradores.
Promoção da cultura de segurança
O uso adequado das vestimentas estimula uma postura preventiva e consolida uma cultura organizacional centrada na proteção à vida e ao bem-estar.
Uso correto: o elo crítico da proteção
A eficácia da vestimenta FR & AE está diretamente ligada ao seu uso adequado. Estudos apontam que grande parte dos acidentes ocorre por uso incorreto ou incompleto do EPI. Por isso, é essencial:
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Realizar treinamentos periódicos;
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Padronizar os procedimentos de uso;
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Fiscalizar a adesão em campo;
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Promover campanhas educativas de longo prazo.
Sem esses elementos, o equipamento perde sua função e se torna apenas um custo — não um investimento.
A vestimenta de proteção térmica não é um uniforme. É um Equipamento de Proteção Individual (EPI) e deve ser tratada com todos os cuidados que essa condição exige. Pelo seu aspecto intrínseco de vestir o trabalhador para protegê-lo, torna-se uma marca permanente que revela o quanto uma empresa se importa com o bem-estar de sua equipe.
Especialistas em análise de riscos têm um olhar crítico sobre essa conduta e conseguem identificar fatores de falhas humanas apenas observando um trabalhador em ação. Eles estabelecem a correlação entre conhecimento, habilidades e capacidade de cumprir regras de trabalho, associados à tecnologia disponível e à cultura organizacional voltada à proteção e qualidade de vida.
Artigo elaborado por Cristina Perez, participante do CB-032 – Comissão de Estudos – Luvas e Vestimentas Riscos Térmicos – Calor e Chama, da Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho (Animaseg).