Por Erlon Torres |
É Especialista em EHS, com 14 anos de experiência. Defensor de uma Segurança do Trabalho mais atualizada e atrativa. CEO do “A Fábrica Podcast” e um amante das tecnologias
Estamos no meio da travessia.
De um lado da margem, uma segurança do trabalho pautada em acidentes, números e documentos que raramente mudavam o chão de fábrica. Do outro, uma nova abordagem, que vê os trabalhadores como parte viva do sistema, valoriza o aprendizado com o sucesso operacional e não apenas com a falha.
Essa transição não é simples. E nem confortável.
Ainda convivemos com planilhas que medem a ausência de acidentes, mas não a presença de capacidade. Com treinamentos genéricos que “atendem à NR” sem desenvolver a autonomia de ninguém. Com auditorias que cobram sinalizações, mas ignoram conversas de valor.
Só que algo mudou.
Empresas estão começando a perceber que os melhores indicadores de segurança não estão na parede, mas nas histórias contadas pelos operadores. Que ouvir é mais valioso do que fiscalizar. Que o comportamento seguro não nasce do medo, mas do sentido — e esse sentido precisa ser construído coletivamente.
As novas visões de segurança — inspiradas por nomes como Sidney Dekker, Erik Hollnagel e Todd Conklin — não estão chegando para acabar com tudo que existia, mas para fazer perguntas melhores:
Por que deu certo?
Como as pessoas adaptam o trabalho real frente ao inesperado?
O que precisamos garantir para que a variabilidade não vire acidente?
Essa mudança exige um novo papel para o profissional de EHS. Menos fiscal. Mais facilitador. Menos “dono da norma”. Mais parceiro do trabalho real.
E isso também exige coragem institucional. Porque muitas vezes, essa nova segurança incomoda. Ela questiona indicadores antigos, desafia a cultura da culpa e expõe lacunas estruturais que antes eram mascaradas por uma falsa sensação de controle.
A transição está em curso. Ainda há quem se agarre ao velho discurso de que “a norma é clara” ou que “sempre fizemos assim e funcionou”. Mas também há quem já entendeu: essa mudança não é modinha, é evolução.
E os sinais estão aí. Universidades reformulando seus currículos. Grandes eventos de SST discutindo comportamento, resiliência e inteligência operacional. Empresas começando a valorizar relatos positivos, e não só desvios e falhas. O profissional que ignora isso corre o risco de se tornar obsoleto — por mais técnico que seja.
Estamos no meio da ponte. Alguns ainda presos ao passado, outros já enxergando o outro lado. E no meio dessa travessia, surge a pergunta que define nossa postura diante do futuro:
Você vai resistir à mudança ou liderá-la?
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