Um trabalhador sofreu uma queda de sete metros enquanto realizava a pintura de um apartamento, em Itajaí, SC. Segundo o Corpo de Bombeiros, replicado pela Rádio Araguaia de Brusque, o pintor foi socorrido e encaminhado para o pronto atendimento com uma fratura na perna direita (tíbia e fíbula). Este é um exemplo de acidente de trabalho que os pintores podem sofrer durante suas jornadas, cujo ofício requer equipamentos de proteção adequados, espaço seguro, além de outros critérios que precisam ser levados em consideração, que vão desde a ergonomia até o contato com agentes químicos, como tinturas e solventes, com possibilidade de alergias e intoxicações, assunto aliás, comentado aqui, sobre profissionais que lidam com funilaria e pintura.
Pesquisa da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro) revela uma realidade desafiadora a quem presta esse tipo de serviço no ramo imobiliário. O relatório técnico (“Diagnóstico das Condições de Segurança e Saúde do Trabalho da Atividade de Pintores Imobiliários Associados da Associação Brasileira de Pintores Profissionais – Abrapp”) feito com 537 profissionais da área em todo o Brasil, mostrou que 53,8% afirmaram trabalhar até oito horas por dia, e 44,9% relataram jornadas superiores a esse limite, além de 67,8% fizeram trabalhos noturnos, o que mostra uma disparidade nas condições de trabalho dessas pessoas.
Saúde mental e cuidados para profissionais pintores
Muitas também são as queixas relacionadas à saúde física e emocional, como dores no corpo, estresse e dificuldades para dormir, resultando no uso prolongado de medicamentos e doenças ocupacionais. Dos respondentes, 28,5% haviam sofrido algum tipo de acidente de trabalho.
Focando em SST, 85,1% alegaram receber algum tipo de treinamento, enquanto 13,2% não foram capacitados. Sobre EPIs, o estudo, cuja íntegra está disponível neste link, chama a atenção de forma positiva: 92,7% responderam que usam os equipamentos necessários durante suas atividades, enquanto apenas 6% não os utilizam.
Vale ressaltar que a Fundacentro elaborou o manual gratuito “Pintura imobiliária em condições seguras e saudáveis – Orientações para auxiliar o profissional a desenvolver suas atividades com segurança”, em que elencam os principais riscos da atividade, como contato com produtos inflamáveis ou tóxicos, poeiras, mofo, trabalho em altura e com eletricidade, procedimentos técnicos e novas formas de contratação desses profissionais.
Normas regulamentadoras
Dentre as Normas Regulamentadoras pertinentes à profissão, a NR-34, que estabelece requisitos de segurança na área da construção, fornece critérios ao trabalho com pintura, com destaque para os cuidados com inflamáveis ou itens passíveis de combustão.
Segundo o regramento, a pessoa que executará a função deve ser treinada sobre as recomendações da Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ – documento padronizado pela ABNT-NBR 14725), além do local ter sistema de renovação de ar para eliminar gases e vapores gerados durante esse serviço, sendo necessário monitorando continuamente a concentração de contaminantes no ar, além de caso haja contaminantes, esses devem ser retirados, especialmente se tiver no recinto fontes de ignição próximas.
Treinamentos e qualificações
Como visto, a capacitação é crucial para a proteção dos trabalhadores, bem como a porta para qualificação e empregabilidade, especialmente para igualdade de gênero.
No Rio Grande do Sul, a Prefeitura de Gravataí, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Capacitação (SMDHC), formou 15 mulheres no curso profissionalizante gratuito de pintura residencial e predial, realizado em parceria com empresas do ramo e a Abrapp, entidade representante da categoria, destacando que “a presença feminina na área tem crescido de forma significativa no Brasil, e a qualificação é um diferencial a quem deseja ingressar ou empreender”, frisa comunicado.
Já em Jaboatão dos Guararapes, PE, a prefeitura e uma indústria de tintas se uniram para capacitar pessoal, sendo que a última turma ficou em 17 novos concluintes no curso de Pintor Profissional Imobiliário. Ocorridas nas instalações da empresa, as aulas envolveram segurança do trabalho e execução de processos, bem como conceitos de pintura, instrumentos básicos de trabalho, perfil do profissional e noções de empreendedorismo.
“Assim como na área de logística, um pintor imobiliário bem preparado e com técnicas atualizadas tem muito mais chances de ingressar na carreira. Garantir que possam se qualificar e, assim, tenham melhores condições de conquistar uma vaga no mercado é uma das prioridades”, frisa Mano Medeiros, prefeito na cidade pernambucana.
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