Ergonomia 5.0 e a Saúde Financeira Empresarial
Por Claudia Carvalho
Em 2024, a dor na coluna voltou a liderar o ranking de afastamentos no Brasil, enquanto os transtornos mentais e comportamentais apresentaram um crescimento alarmante.
Segundo o Ministério da Previdência Social, mais de 3,5 milhões de pessoas receberam benefícios por incapacidade temporária no último ano. Entre os motivos mais frequentes estão as doenças da coluna, com 205,1 mil afastamentos, e os transtornos mentais, que saltaram de 283,3 mil casos em 2023 para 472,3 mil em 2024 – um aumento de 67%. Os números de afastamentos por doenças ocupacionais seguem crescendo de forma alarmante no país.
Mesmo com todos os avanços tecnológicos, digitalização de processos, informações acessíveis e discursos sobre saúde e bem-estar no ambiente corporativo, os dados revelam que algo essencial está sendo negligenciado: o olhar para a saúde integral e globalizada dos trabalhadores.
A pergunta que se impõe é urgente: por que, em plena era da inovação, as empresas ainda adoecem seus colaboradores?
A resposta está na mentalidade. Ainda vivemos, em grande parte, sob um modelo de gestão ultrapassado, centrado em metas e entregas, no qual o colaborador é visto como recurso – não como ser humano. A saúde no trabalho é tratada como obrigação legal, e não como estratégia de crescimento sustentável.
Essa visão limitada gera decisões míopes. Líderes pressionados por resultados imediatos hesitam em investir em programas reais de saúde, bem-estar e qualidade de vida no trabalho, por enxergarem apenas os custos – ou melhor, os “gastos”.
No entanto, o custo da omissão acarreta sérios impactos à saúde financeira das empresas – tanto visíveis quanto invisíveis: afastamentos recorrentes, alta rotatividade, planos de saúde cada vez mais caros, queda de produtividade, erros operacionais, adoecimento coletivo e ações trabalhistas (custos visíveis); insatisfação, desmotivação, desvalorização de colaboradores e conflitos geracionais (custos invisíveis).
Ergonomia 5.0: uma virada de chave
A Ergonomia 5.0 propõe uma virada de chave. Vai muito além do ajuste da cadeira ou da posição da tela. Ela adota uma visão integrativa, baseada em quatro pilares fundamentais:
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Saúde física/corporal
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Saúde mental/emocional
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Aspectos psicossociais/biossociais
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Espiritualidade organizacional/trabalho
Ambientes saudáveis geram resultados reais. Mais do que corrigir posturas ou equipamentos inadequados, trata-se de adotar práticas eficazes alinhadas com:
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NR-1 (Gerenciamento de Riscos Ocupacionais)
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NR-17 (Ergonomia)
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ESG (Ambiental, Social e Governança)
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ODS 3 (Saúde e Bem-Estar)
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ODS 8 (Trabalho Decente e Crescimento Econômico)
O objetivo é identificar disfunções nas tarefas profissionais e suas repercussões na vida pessoal.
Liderança e cultura do cuidado
Mais do que uma técnica, a Ergonomia 5.0 é uma nova forma de pensar e liderar. Empresas que adotam essa abordagem compreendem que produtividade nasce do equilíbrio. Sem pessoas saudáveis e satisfeitas, não há lucro sustentável.
A mudança cultural começa na liderança. É preciso formar gestores que saibam ouvir, acolher, perceber sinais precoces de desgaste e construir ambientes humanizados. Isso exige coragem, empatia, consciência e compromisso – mais do que treinamentos.
O custo do invisível
Ignorar o invisível custa caro. Muitos desses custos não aparecem nas planilhas, mas drenam energia, tempo e resultados.
As 10 Vertentes da Ergonomia 5.0
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Ergonomia Física – Reduz lesões musculoesqueléticas e melhora o posto de trabalho
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Ergonomia Cognitiva – Aprimora tomada de decisão e processamento de informações
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Ergonomia Psicossocial – Previne estresse e melhora o clima organizacional
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Ergonomia Organizacional – Otimiza fluxos e estratégias de trabalho
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Ergonomia Biomecânica – Previne sobrecargas físicas
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Ergonomia Participativa – Engaja os colaboradores nas soluções
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Ergonomia Emocional – Equilibra mente e emoções no trabalho
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Ergonomia Sistêmica – Integra setores, processos e pessoas
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Ergonomia de Conscientização – Fortalece a cultura preventiva
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Ergonomia Sustentável – Conecta saúde ocupacional à responsabilidade social
Conclusão
A Ergonomia 5.0 não é só uma solução técnica: é estratégia de sustentabilidade. Corrige o visível, transforma o invisível e antecipa crises. Quando bem aplicada, muda a cultura, os resultados e a vida das pessoas.
Em tempos em que tecnologia, inovação e capital humano são diferenciais competitivos, ignorar a saúde e o bem-estar dos colaboradores é um risco estratégico.
A cultura do cuidado começa com consciência – e se consolida com ação.
Sobre a autora
Claudia Carvalho – Fisioterapeuta, Ergonomista de Alta Performance, Técnica de Segurança do Trabalho e Terapeuta em Saúde Integrativa Ocupacional. Mentora e palestrante em Ergonomia 5.0 Multidimensional, atua com análise ergonômica, postura emocional ocupacional, assistência técnica em LER/DORT e fisioterapia organizacional.