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Abril Verde inspira empresas a agirem além da campanha

Ambiente de trabalho seguro o ano inteiro: além da conscientização, movimento semeia a cultura de prevenção contínua, trazendo em mais uma edição debates sobre a futura NR-1 (adiada para maio de 2026) com foco na saúde mental e engajamento coletivo

Por Sofia Jucon

Abril se tornou o mês de conscientização sobre a segurança no trabalho e a prevenção de acidentes laborais com a campanha Abril Verde. Mais do que um período específico, a iniciativa visa incutir uma cultura de prevenção e responsabilidade contínua em empresas, gestores e trabalhadores. Para entender como ir além das ações pontuais e construir um ambiente de trabalho verdadeiramente seguro, a chave está na conscientização e na implementação de medidas eficazes de segurança.

O Abril Verde reforça a importância da segurança no ambiente de trabalho e a necessidade de um compromisso coletivo com a prevenção. Empresas e trabalhadores que investem na segurança preservam vidas e promovem um ambiente mais produtivo e saudável. Com esta visão, Ângelo Otávio, mentor corporativo e especialista em SIPAT (Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho), os treinamentos e SIPATs são importantes, mas insuficientes isoladamente. “As palestras e treinamentos precisam estar inseridos dentro de um programa de mudança cultural, no qual após as ações virão os reforços como provocar os tópicos nos DDS (Diálogo Diário de Segurança), nas reuniões de bom dia, nas reuniões de CIPA, ou em qualquer outro evento. A mudança comportamental depende de um estado de alerta vivo e constante”, explica.

Ângelo Otávio, mentor corporativo e especialista em Sipat

Para transformar a segurança em prioridade constante, o especialista aponta a necessidade de “criar as condições de trabalho seguras, onde equipamentos, ferramentas, sinalizações e bloqueios, por exemplo, estarão no nível mais elevado de proteção”. Ele ressalta que “sem condições adequadas dificilmente promoveremos atitudes seguras, ou seja, condições e atos seguros andam juntos”.

Um ponto fundamental para a prevenção é o empoderamento dos trabalhadores. Segundo Otávio, o empoderamento está diretamente ligado ao senso de dono e de pertencimento. Para ele, a ferramenta que mais retrata isso é o “Dever de Recusa”, por meio da qual o profissional avalia criteriosamente a situação e decide prosseguir ou não de acordo com a sua segurança e dos demais. “Quando isso acontece sem julgamento e/ou punições, começamos a promover esse empoderamento”, explica.

No monitoramento do impacto das ações de segurança, Otávio sugere o uso do feedback como ferramenta de alinhamento e direcionamento. “Ele pondera que indicadores comportamentais são de longo prazo, inseridos em um programa macro”, observa.

Para que a segurança deixe de ser uma imposição e se torne um valor intrínseco à cultura organizacional, Otávio destaca que é essencial um despertar de consciência em todos os níveis de responsabilidade. De acordo com ele, a preocupação genuína com o bem-estar humano, que engloba a pessoa em sua totalidade e não apenas em sua função laboral, é o alicerce dessa mudança. “As metas, embora importantes, são meios, não fins – a preservação da vida é o objetivo final. A mentalidade que reduz a segurança a números e estatísticas, exemplificada pela repreensão que prioriza resultados (“Cuidado com minhas estatísticas!”), precisa ser desconstruída. A verdadeira mudança cultural se manifesta quando a valorização da vida se torna o princípio norteador de todas as ações e comunicações”, avalia.

Para manter a cultura de segurança ativa o ano todo, Otávio reitera que não se trata de ações isoladas, mas de um “conjunto de ações feitas por pessoas engajadas com o propósito maior que é a prevenção contra acidentes”. Ele cita os meses temáticos como Outubro Rosa, Novembro Azuk, SIPATs, integrações, DDS e reuniões de CIPA como ferramentas para manter a atenção e a motivação, complementadas por bons treinamentos que elevam o conhecimento e a tomada de decisões seguras. “Pessoas preparadas, confiantes e com segurança psicológica íntegra para tomar as decisões mais seguras sempre, mesmo que isso seja um confronto para a produção”, ressalta.

Fortalecer a cultura da segurança

Mais do que uma iniciativa isolada, o movimento Abril Verde catalisa discussões e ações concretas que visam transformar a cultura organizacional e preparar o setor para os desafios presentes e futuros. Um dos pilares centrais dessa transformação, conforme aponta o Dr. Marco Aurélio Bussacarini, especialista em Medicina Ocupacional pela USP e CEO da Aventus Ocupacional, é a intrínseca ligação entre um ambiente de trabalho seguro e a produtividade.

Marco Aurélio Bussacarini, especialista em Medicina Ocupacional pela USP e CEO da Aventus

“O poder do Abril Verde reside em sua capacidade de converter desafios em soluções práticas e duradouras. Mais que apontar falhas, ele convida à ação, valorizando iniciativas e estimulando o engajamento coletivo com a segurança e a saúde no trabalho, elementos essenciais para um desempenho otimizado das empresas”, declara Dr. Bussacarini. Para o especialista, investir em prevenção não é apenas uma obrigação legal e ética, mas uma estratégia inteligente que se reflete diretamente na eficiência e no bem-estar dos colaboradores.

Para fortalecer essa cultura de prevenção que irradia em produtividade, Dr. Bussacarini oferece seis dicas fundamentais para as empresas durante e além do Abril Verde:

  1. Promova treinamentos contínuos: “A capacitação é um dos pilares da prevenção. Investir em treinamentos regulares, com linguagem acessível e conteúdo prático, é fundamental para que todos compreendam os riscos e saibam como agir de forma segura.”
  2. Valorize a escuta ativa dos trabalhadores: “Os profissionais que estão na linha de frente conhecem bem os desafios do dia a dia. Criar canais de escuta e envolver os colaboradores na identificação de melhorias aumenta o engajamento e a efetividade das ações preventivas.”
  3. Atualize protocolos e normas internas com regularidade: “A legislação evolui, e os ambientes de trabalho também. Rever periodicamente os procedimentos internos garante que estejam alinhados com as melhores práticas e com as normas regulamentadoras em vigor.”
  4. Cuide da ergonomia e do conforto no ambiente de trabalho: “A ergonomia adequada reduz afastamentos, melhora o desempenho e evita lesões musculoesqueléticas. Simples ajustes em cadeiras, mesas ou a organização do espaço já fazem grande diferença.”
  5. Incorpore a saúde mental à pauta da segurança: “Falar sobre segurança é também falar sobre equilíbrio emocional, sobre clima organizacional saudável. Programas de apoio psicológico, escuta qualificada e ações de bem-estar são indispensáveis no cenário atual.”
  6. Use a tecnologia como aliada: “Ferramentas digitais, sensores e aplicativos podem ajudar a monitorar condições de trabalho, registrar ocorrências e antecipar riscos. Mas o mais importante é garantir que esses recursos estejam a serviço das pessoas.”

 

Impactos da nova NR-1 nas empresas brasileiras

No contexto das discussões sobre a modernização das normas de saúde e segurança do trabalho, a Bernhoeft, consultoria empresarial de referência nacional em Gestão de Terceiros, promoveu um encontro estratégico em celebração ao Abril Verde. O evento, realizado em 3 de abril na FGV EAESP (Fundação Getúlio Vargas), teve como foco central o debate sobre a próxima atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), adiada para entrar em vigor em maio de 2026, e a ênfase na inclusão dos riscos psicossociais, bem como no fortalecimento da cultura de prevenção nas empresas brasileiras.

Evento da Bernhoeft, da FGV EAESP, em São Paulo (Foto: Bernhoeft/Divulgação)

O encontro reuniu um painel multidisciplinar de especialistas, desde auditores fiscais até executivos de grandes corporações, proporcionando uma abordagem inédita sobre o tema. Rodrigo Vieira, Auditor Fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego, afirmou durante o evento que “a atualização da NR-1 representa um avanço significativo ao ampliar o conceito de segurança do trabalho, incorporando riscos psicossociais como parte fundamental da gestão ocupacional”.

A coordenadora nacional da Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho e da Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, do Ministério Público do Trabalho (Codemat/MPT), Cirlene Zimmermann, ressaltou em sua participação que “a construção de um ambiente de trabalho seguro depende de ações preventivas sólidas, que garantam a integridade física e emocional dos trabalhadores”.

O debate também contemplou as perspectivas do setor hospitalar e da cadeia de suprimentos. Bruno Lima, coordenador de compras e projetos estratégicos do Hospital Israelita Albert Einstein, destacou a intrínseca ligação entre a segurança do trabalho e a gestão de fornecedores, pontuando que “a gestão eficiente de fornecedores é essencial para garantir condições adequadas de trabalho e minimizar riscos ocupacionais”.

Bruno Santos, sócio da área de Gestão de Terceiros da Bernhoeft, elucidou os impactos da atualização da NR-1 no âmbito da terceirização, enfatizando que “a nova norma reforça a importância de processos estruturados para o monitoramento dos prestadores de serviços, com foco não apenas na conformidade, mas na criação de ambientes mais saudáveis e seguros”.

A programação do evento da Bernhoeft também ofereceu painéis enriquecedores, incluindo um debate sobre saúde mental conduzido por Tatiana Pimenta, CEO da Vittude; uma apresentação sobre cultura de segurança proferida por Emerson Franco, diretor do Grupo Colabor; e uma palestra de Erlon Torres, especialista da Bernhoeft, que abordou o papel estratégico da segurança do trabalho como um fator crucial para os negócios. Além das discussões técnicas, o encontro proporcionou um ambiente de troca de experiências por meio de uma mesa redonda interativa, momentos de networking e um espaço dedicado a perguntas, fortalecendo a conexão entre a teoria, a prática e os desafios reais enfrentados pelo mercado.

A iniciativa da Bernhoeft reforça o seu posicionamento como um agente ativo na transformação da gestão empresarial no Brasil. “Acreditamos que a saúde mental deve ser um pilar estratégico nas empresas. Ao liderar esse debate, buscamos inspirar uma mudança de cultura e apoiar as organizações na construção de políticas mais integradas e eficazes”, afirmou Bruno Santos.

Saúde mental para além dos convênios médicos

A crescente preocupação com a saúde mental, um dos focos da nova NR-1, encontra respaldo em dados alarmantes apresentados pelo Relatório de Tendências Globais 2025 do ManpowerGroup. Quase metade dos trabalhadores globalmente relata sofrer com estresse diário, enquanto a percepção de apoio emocional por parte dos empregadores ainda é baixa. No Brasil, o número de afastamentos por ansiedade e depressão atingiu um pico histórico em 2024.

Wilma Dal Col, diretora de Recursos Humanos no ManpowerGroup, ressalta a amplitude da responsabilidade das empresas: “É muito mais do que garantir plano de saúde e acompanhamento médico adequado. O contratante deve se preocupar em promover hábitos saudáveis, capacitar gestores para apoiar o bem-estar dos colaboradores e implementar ações de conscientização sobre saúde física e mental”. A especialista também alerta para a influência da tecnologia, como a Inteligência Artificial, no aumento do burnout. Curiosamente, estudos apontam que investir no tratamento da saúde mental pode quadruplicar a produtividade.

Wilma Dal Col, diretora de Recursos Humanos no ManpowerGroup

A diversidade das necessidades entre as gerações também emerge como um ponto de atenção. A Geração Z, por exemplo, demonstra maior vulnerabilidade em relação à saúde mental, enquanto os Millennials, muitas vezes em posições de liderança, enfrentam desafios relacionados ao estresse. A flexibilidade no regime de trabalho e a criação de espaços que promovam o bem-estar e a interação são apontados como estratégias para mitigar esses problemas.

Ciclo de palestras reforça participação feminina

Paralelamente às discussões e eventos promovidos por empresas e especialistas, o Abril Verde também mobiliza entidades de classe. No Maranhão, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-MA) promoveu um ciclo de palestras alusivas ao mês da Segurança e Saúde no Ambiente de Trabalho, reforçando a cultura de prevenção de acidentes. Um dos pontos altos do evento foi a ênfase no papel estratégico das mulheres na segurança laboral.

O ciclo de palestras, realizado no Auditório João Goulart, contou com a presença do presidente do CREA-MA, engenheiro Wesley Assis, além de diversos especialistas e profissionais da área, que debateram medidas preventivas e boas práticas para a criação de ambientes de trabalho mais seguros. Durante o evento, foi amplamente discutida a importância da participação feminina em todos os níveis – seja como gestoras, técnicas ou colaboradoras – para o desenvolvimento de políticas de SST mais eficazes. O CREA-MA reafirmou seu compromisso com a valorização da vida no trabalho, salientando que a prevenção deve ser uma prática contínua.

A programação do ciclo de palestras do CREA-MA também contou com a participação de Jófilo Moreira Lima, consultor em SST, que ministrou uma palestra sobre “Avanços e Desafios da NR-18”, abordando as principais alterações e implicações práticas da norma regulamentadora voltada à indústria da construção. “Compartilhei reflexões com base na minha trajetória como especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho, mestre em Segurança Integral pela Mapfre/Espanha, além das experiências como secretário do Trabalho do MTE (1994/1995) e diretor técnico da Fundacentro (2008/2012)”, informou o consultor.

Jófilo Moreira Lima também integrou o painel “SST: Concepção e Gerenciamento do PGR previsto na NR-1”, que foi mediado pela engenheira ambiental e de segurança do Trabalho, Monique Oliveira. “O painel reuniu especialistas para discutir os desafios da implementação do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), ressaltando a importância de um enfoque técnico, multidisciplinar e preventivo na gestão de segurança nas organizações. O evento reafirma o compromisso do CREA-MA com a valorização da segurança do trabalho e o fortalecimento das boas práticas preventivas no Maranhão”, destacou Lima.

Jófilo Moreira Lima, consultor em SST (primeiro à esq)

O Abril Verde se estabelece como um período para catalisar a cultura de segurança e saúde no trabalho no Brasil. As discussões lideradas por especialistas como o Dr. Bussacarini, os debates sobre a nova NR-1 promovidos pela Bernhoeft, as iniciativas de conscientização como as do CREA-MA e os dados reveladores sobre o bem-estar dos trabalhadores reforçam a urgência de um compromisso contínuo e multidisciplinar com a prevenção, a saúde mental e a adaptação às novas exigências regulatórias. O objetivo final é a construção de ambientes laborais onde a segurança seja um valor intrínseco, impulsionando não apenas a proteção dos trabalhadores, mas também a produtividade e um futuro do trabalho mais humano e sustentável.

 

Memorial Brumadinho homenageia 272 vítimas da tragédia em MG

Foto: Leo Drumond-Nitro

O Memorial Brumadinho, inaugurado em janeiro de 2025, seis anos após o rompimento da barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, se ergue como um espaço de profunda reflexão sobre a maior tragédia ocupacional do Brasil. Construído no local do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão (2019), o memorial preserva a memória das 272 vidas perdidas. A tragédia, que ceifou vidas e devastou uma vasta área, expôs a dura realidade do Brasil como o 4º país em registros de acidentes de trabalho, com uma média alarmante de um acidente a cada 51 segundos e mais de duas mil mortes anuais.

Kenya Lamounier, diretora da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum), reforça o papel do Memorial como espaço de reflexão e honra aos trabalhadores que morreram em decorrência da tragédia. “O que aconteceu em Brumadinho não foi um acidente. Foi uma escolha. O Memorial está aqui para contar essa história e dar rosto, nome e dignidade a cada trabalhador que saiu de casa para trabalhar e não voltou. É uma lembrança permanente de que irresponsabilidade mata”, afirma.

Mais que uma homenagem, o Memorial Brumadinho, mantido pela fundação homônima, é um compromisso permanente com a memória, a educação preventiva e o valor inegociável da vida. Com exposições, projetos educativos e um bosque de 272 ipês, o espaço recebe visitantes de todo o País, servindo como um alerta constante contra o esquecimento e um catalisador para a mudança na cultura de segurança do trabalho.

Para a presidente da Fundação, Fabíola Moulin, o 28 de abril e o Memorial lembram que trabalho sem segurança não é progresso, e que o cuidado com a vida deve ser primordial em qualquer ambiente profissional. “O Memorial nos obriga a olhar para a frente com uma nova perspectiva e cientes de que o cuidado com a vida é algo primordial em qualquer local, sobretudo nos ambientes de trabalho”, conclui.

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