Notícias de incêndios estruturais aumentaram nos três primeiros meses de 2025: foram 647 ocorrências de janeiro a março deste ano, representando alta de 6% em comparação ao mesmo período de 2024, quando foram registradas 610 notícias. A organização responsável por essas informações é o Instituto Sprinkler Brasil (ISB), que tem como missão difundir o uso de sprinklers na prevenção e combate a incêndios em instalações industriais e comerciais no Brasil, que diariamente realiza o monitoramento de notícias difundidas e faz os parâmetros, tornando-se uma das principais referências no tema.
Muito embora essa fonte seja de extrema importância, especialistas alertam que há uma carência de estatísticas oficiais sobre incêndios estruturais, em moldes e divulgação como os feitos para o monitoramento de vegetações. Os índices de tais incêndios também são divulgados pelos Corpos de Bombeiros nos estados, por meio de canais oficiais e em portais de Transparência, entretanto, não há uma centralização, o que facilitaria o entendimento e amplitude, e consequentemente, quais soluções poderiam ser empregadas para mitigar, evitar e combater esses casos no Brasil.
Para se ter uma ideia, o próprio ISB frisa que a checagem de notícias é feita por um recorte de tema, o que exclui ocorrências em casas, por exemplo. “As contabilizadas são chamadas de ‘incêndios estruturais’, ou seja, que poderiam ter sido contornadas com a instalação de sprinklers e em depósitos, hospitais, hotéis, escolas, prédios públicos, museus, entre outros. O ISB não inclui os residenciais, que apesar de também serem incêndios estruturais, não são objeto de acompanhamento porque a legislação de segurança contra incêndio não se aplica a residências unifamiliares, onde acontece o maior número de casos”, salienta nota do Instituto.
Informar os dados para atualizar
Para Marcelo Lima, consultor do ISB, há a necessidade de os governos estaduais publicarem por meio do Corpo de Bombeiros estatísticas que comprovem o volume de sinistros. “Entre os desafios que ainda temos no setor de proteção contra incêndio no Brasil, como a falta de certificação de equipamentos, engenharia de incêndio e qualidade profissional, a questão das estatísticas seria o mais fácil de resolver, uma vez que os dados já existem”, explicou o gestor, em evento de 2023 promovido Comitê Brasileiro de Segurança Contra Incêndio da Associação Brasileira de Normas Técnicas (CB-024/ABNT).
De acordo com os pesquisadores Dayse Duarte, professora associada do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), coronel George Braga, Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), e Cristiano Corrêa, doutor em Engenharia Civil com ênfase em segurança contra incêndios (UFPE), a incipiência dessas estatísticas também perpassa pela autonomia de aferição e método que as corporações instituem para consolidá-las.
“Isso levou, em 2007, o Conselho Nacional dos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil (Ligabom) a estabelecer um modelo de aferição que permita uma ‘padronização’ nacional. A recomendação,que também coadunada com a NBR 14.023, foi adotada por várias das instituições. Apesar da iniciativa, o Brasil ainda não possui um estudo estatístico nacional que expresse os números de forma detalhada, ou ainda um ‘Sistema Nacional de Coleta e Análise de Dados de Bombeiros’”, escrevem, em artigo científico.
A norma que os estudiosos se referem (ABNT NBR 14023) estabelece aos bombeiros (militar e civil) uma padronização no registro de dados de ocorrências de incêndios e emergências, definindo termos, classificações e procedimentos, incluindo área atingida, atendimento a vítimas, prevenção e recursos empregados. “O objetivo principal é garantir a coleta e análise padronizada para fins de segurança”, salienta a normativa.
