Por Sérgio Ussan
É Engenheiro Civil e Engenheiro de Segurança
Na Parte I deste tema, abordei as dificuldades que os profissionais prevencionistas encontraram no uso dos EPIs por parte dos trabalhadores e a natural rebeldia com novos procedimentos.
Essa situação foi enfrentada, no passado, com a apresentação de fotos e vídeos de acidentes ocorridos durante atividades desenvolvidas pelos trabalhadores em obras de construção.
Com o tempo, essa fórmula foi popularizada, não mais suprindo as necessidades esperadas na proteção do trabalhador — e o retorno da rebeldia aconteceu.
Retornando ao último parágrafo da Parte I — “Quais as ferramentas usadas para vencer, novamente, a rebeldia do trabalhador?” — a resposta a esse questionamento está, hoje, comprovada: Conscientização.
Sim, conscientização: tomar consciência de algo, tornar-se conhecedor ou adquirir conhecimento sobre algo.
Perguntas que surgem neste momento: “Como se consegue isso?” “Quem é o responsável por essa tarefa?”
Explorando o óbvio (olha ele aí novamente): o que parece difícil torna-se fácil.
De início, caberá aos integrantes da equipe de Segurança, Saúde e Meio Ambiente do Trabalho, em atuação na obra, dominarem conhecimentos, princípios e experiências que deverão ser repassados aos trabalhadores, como:
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Empatia prevencionista/trabalhador: habilidade de se identificar com outra pessoa, compreender o que ela sente, acompanhar seus objetivos e adaptar as orientações de forma a abordar as várias situações que fazem parte da rotina de trabalho.
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Acreditar na proteção da prevenção no combate a acidentes e incidentes do trabalho.
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Saber como se comunicar com o(s) trabalhador(es) de forma acessível e perfeitamente compreensível por ele(s).
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Formar grupos de trabalho integrados por trabalhadores que demonstrem interesse no segmento de proteção.
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Propor e divulgar ações práticas a serem desenvolvidas no canteiro de obras.
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Estimular os trabalhadores à leitura de textos e normas que abordem conhecimentos aplicáveis à prática.
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Prover concurso mensal, individual ou em grupo, de frase de segurança que será exposta durante o mês com o nome do(s) autor(es).
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Desenvolver formas de bom relacionamento pessoal e profissional entre os trabalhadores.
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Estabelecer uma “Caixa de Sugestões” para receber ideias dos trabalhadores sem a necessidade de sua identificação.
No início, surgirão dúvidas sobre o alcance dos objetivos previstos, mas, com o tempo e persistência, todos notarão alterações no clima e no relacionamento entre os trabalhadores em ação no canteiro — fato ampliado quando há a participação do comando da obra e da empresa.
O que é pouco ou nada comum, mas traz resultados, é a realização de DSS – Diálogos Semanais de Segurança, com duração em torno de 30 minutos, quando os trabalhadores têm a possibilidade de repassar experiências pessoais aos demais integrantes em ação na obra.
Neste momento, pode o leitor exclamar: “Perda de tempo! Tem é que trabalhar, e não ficar conversando.”
E eu pergunto: “Como sabe que é perda de tempo? Já experimentou desenvolver um programa de conscientização voltado para a Segurança e Saúde do Trabalho na construção civil?”
Minha experiência indica que o ambiente de segurança no canteiro começa com ações desenvolvidas pelo Técnico de Segurança do Trabalho e tem continuidade com a participação de todos os demais.
Em pouco tempo — pouco tempo mesmo — os trabalhadores não mais apresentarão “rebeldia” no trato com SST, abraçando e desenvolvendo procedimentos individuais e coletivos de proteção.
Enfim, a abordagem acima é, na verdade, um texto simples, óbvio e sem maiores novidades, mas que não é presenciado em desenvolvimento nos canteiros de obras.
Faço um desafio a todos os prevencionistas: saiam de sua zona de conforto e desenvolvam ideias simples na estratificação de ambientes seguros aos trabalhadores em obras de construção civil.
Ao final, o resultado é compensador.
Como sempre, o contraditório será bem-vindo.