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IA e humanização seguem unidas e ganham força conjunta

Ao mesmo tempo em que a Inteligência Artificial impulsiona avanços na segurança e saúde do trabalho, é importante manter a empatia, a escuta ativa e a centralidade humana como pilares essenciais na era digital

Por Sofia Jucon

 

 

A Inteligência Artificial (IA) já se consolidou como uma realidade transformadora no universo da Segurança e Saúde no Trabalho. Com o potencial de otimizar processos, prever riscos e aprimorar a gestão, a IA oferece ganhos significativos em eficiência. No entanto, a Associação Brasileira de Empresas de Saúde e Segurança no Trabalho (ABRESST), emite um alerta: essa evolução tecnológica deve ser pautada por uma abordagem centrada no ser humano, garantindo que valores como empatia, escuta ativa e respeito ao trabalhador permaneçam no centro das estratégias corporativas.

Mais de 78% das empresas já incorporaram ferramentas de IA em suas operações, e a gestão de pessoas e segurança do trabalho despontam como as áreas de maior aplicação, conforme o relatório “State of AI in 2024” da McKinsey & Company. Essa vasta adoção abre um horizonte de oportunidades para o uso estratégico de dados, permitindo a identificação de padrões de absenteísmo, a antecipação de quadros de adoecimento e a personalização de treinamentos. Contudo, Ricardo Pacheco, presidente da ABRESST, médico do trabalho e especialista em saúde corporativa, reforça que o protagonismo do ser humano é inegociável, mesmo diante dos avanços da IA.

Deste modo, a ABRESST adverte que o uso indiscriminado da tecnologia pode desumanizar o ambiente corporativo se não houver um compromisso ético e consciente por parte das organizações. “A tecnologia deve apoiar a relação humana, não substituí-la. É preciso garantir que o trabalhador seja visto em sua totalidade, não apenas como números em um dashboard, mas como uma pessoa com necessidades, emoções e histórias”, afirma Pacheco.

A ABRESST entende que a implementação da IA na saúde ocupacional, embora promissora, traz consigo desafios complexos que exigem responsabilidade e cautela. “Nosso maior desafio é assegurar que a tecnologia sirva ao propósito de apoiar o ser humano, e não de desumanizar processos ou relações”, explica o presidente. Entre os principais pontos de atenção, ele destaca o viés e a discriminação algorítmica, onde algoritmos mal desenvolvidos podem replicar preconceitos existentes, levando a decisões discriminatórias. “A ABRESST defende a necessidade de algoritmos transparentes, justos e constantemente auditados”, pontua.

Ricardo Pacheco, presidente da ABRESST, médico do trabalho e especialista em saúde corporativa (Foto: ABRESST/Divulgação)

Outro desafio reside na privacidade e segurança dos dados sensíveis de saúde. Ricardo Pacheco enfatiza a necessidade de protocolos rigorosos de proteção, em conformidade com leis como a LGPD, para salvaguardar as informações dos trabalhadores. A transparência e explicabilidade (“Caixa-Preta”) dos sistemas de IA também são preocupações: “Na SST, é fundamental que as recomendações ou diagnósticos gerados pela IA sejam explicáveis e transparentes, permitindo que profissionais de saúde e trabalhadores compreendam a base das conclusões e confiem nos resultados”, observa.

O risco de dependência excessiva e desumanização é uma ameaça real. Dr. Pacheco alerta para o perigo de que a IA substitua o julgamento humano e a interação empática, relegando o profissional de SST a um papel secundário. “A desumanização ocorre quando a tecnologia se torna o único ou principal ponto de contato, eliminando a escuta ativa e o acolhimento, essenciais para o bem-estar psicológico”, ressalta. Por fim, o monitoramento invasivo pela IA pode minar a confiança, gerando estresse e criando um ambiente de trabalho de constante pressão e falta de autonomia.

 

Humanização: pilar essencial na era digital

Em um cenário corporativo cada vez mais influenciado pela tecnologia, a humanização das relações de trabalho emerge como um elemento fundamental para o sucesso organizacional. A ABRESST destaca que, embora a Inteligência Artificial ofereça ferramentas poderosas para otimizar processos e melhorar a eficiência, é imprescindível que as empresas mantenham o foco no bem-estar e nas necessidades humanas de seus trabalhadores. “Recomendamos que as empresas combinem o uso de IA com práticas de gestão humanizadas, como rodas de conversa, feedbacks frequentes, treinamentos presenciais e ações de promoção de saúde integral. Esse equilíbrio é considerado essencial para construir ambientes de trabalho saudáveis, produtivos e sustentáveis”, esclarece Pacheco.

A utilização de dados para identificar padrões de absenteísmo ou antecipar quadros de adoecimento exige extremo cuidado para evitar invasão ou estigmatização. A ABRESST orienta as empresas a focarem na coletividade, e não somente no indivíduo, utilizando a IA para identificar tendências em grupos de trabalhadores e sinalizar riscos coletivos. “O objetivo não é ‘prever’ a doença de um indivíduo, mas sim identificar padrões que permitam ações preventivas abrangentes e estratégias de saúde populacional”, explica o presidente da entidade. Além disso, a anonimização e pseudonimização rigorosas dos dados sensíveis são essenciais, juntamente com o consentimento informado e transparência absoluta sobre como os dados são coletados e utilizados. “O consentimento informado é crucial, e deve haver total clareza sobre os objetivos da análise preditiva, garantindo que a confiança seja construída e mantida”, enfatiza. O propósito de suporte, não de julgamento ou punição, é a base dessa abordagem, e qualquer insight gerado pela IA que sugira um risco individual deve ser validado e interpretado por um profissional de saúde ocupacional qualificado, sempre com empatia e confidencialidade.

A tecnologia, quando bem empregada, pode, de fato, potencializar as práticas humanizadas. “A IA pode analisar dados de clima organizacional, pesquisas de satisfação e indicadores de bem-estar para identificar onde a intervenção humana é mais necessária”, destaca Ricardo Pacheco. Ele cita exemplos como a detecção de aumento nos níveis de estresse em um departamento, que pode sinalizar a urgência de uma roda de conversa focada em saúde mental. A personalização do suporte humano, por meio da análise de dados agregados e éticos, permite que a IA auxilie na customização de programas de bem-estar e treinamentos, tornando as interações humanas subsequentes mais relevantes.

Além disso, a otimização do tempo para o essencial é outro benefício, pois ao automatizar tarefas repetitivas, a IA libera os profissionais de SST e gestores para se dedicarem mais às interações humanas de valor. “A IA pode, inclusive, identificar a necessidade dessas interações humanas através da análise de sentimento em comunicações internas ou da identificação de padrões de comportamento que sugiram a necessidade de uma intervenção coletiva ou individual”, complementa Pacheco.

Foto: AdobeStock

A implementação de uma gestão humanizada traz diversos benefícios comprovados, como o aumento da produtividade e do engajamento dos trabalhadores, a melhoria do clima organizacional, a redução do estresse e da ansiedade, a diminuição da rotatividade de pessoal e a retenção de talentos. “Trabalhadores que se sentem valorizados e respeitados tendem a ser mais leais à empresa e comprometidos com seu sucesso”, enfatiza o presidente da ABRESST. Além disso, a humanização no ambiente de trabalho promove a construção de relações baseadas na confiança, onde os profissionais se sentem confortáveis para expressar suas necessidades e preocupações, fortalecendo a comunicação aberta.

 

Preparo da SST para atender a IA

A ABRESST, atenta à velocidade das inovações em IA, prepara-se ativamente para as futuras tendências. “Iniciamos uma pasta especializada nesse segmento: Inovação e Tecnologia que está sendo presidida pelo Dr. Charles Dias”, informa Ricardo Pacheco. A prioridade máxima da entidade é garantir que, em um futuro cada vez mais digitalizado, a humanização continue sendo o pilar essencial da saúde ocupacional. Isso se traduz em monitoramento e pesquisa contínua das tendências globais em IA, educação e capacitação ampla de profissionais de SST não apenas no uso técnico, mas nos aspectos éticos e humanos da tecnologia, e um diálogo ativo com órgãos reguladores para contribuir na formulação de políticas que garantam o uso ético e seguro da IA. A ABRESST também fomenta a pesquisa e desenvolvimento de soluções éticas e a criação de grupos de trabalho multidisciplinares para analisar as novas tecnologias sob diversas perspectivas.

Para manter a humanização como um pilar essencial, a ABRESST foca em: Design Centrado no Ser Humano, assegurando que toda solução de IA seja desenvolvida com foco na dignidade e autonomia do trabalhador; Desenvolvimento de Habilidades Humanas (Soft Skills), como empatia e comunicação, que são insubstituíveis pela IA; Letramento Digital e Ético para Todos, capacitando trabalhadores a compreenderem como a IA funciona; Governança Robusta e Auditorias Periódicas, para identificar e corrigir vieses; e Foco na Prevenção e Promoção, utilizando a IA para aprimorar a prevenção de acidentes e doenças.

Para avaliar se as empresas estão alcançando o equilíbrio entre o uso da IA e a manutenção de um ambiente de trabalho humanizado, Pacheco sugere indicadores-chave: índices de engajamento e satisfação dos colaboradores relacionados à percepção da tecnologia, redução de queixas relacionadas à privacidade e vigilância, aumento na participação em programas de bem-estar e prevenção, melhora nos indicadores de saúde mental, tempo qualitativo dedicado por gestores e profissionais de SST a interações de alto valor, qualidade e relevância das intervenções humanas impulsionadas pela IA, e a percepção de transparência e justa causa por parte dos trabalhadores.

Olhando para o futuro, Ricardo Pacheco e a ABRESST nutrem grandes expectativas em relação à integração da IA na segurança e saúde ocupacional, sempre com o compromisso inabalável de que essa evolução tecnológica priorize o bem-estar e a humanização dos trabalhadores. As maiores expectativas incluem a prevenção e proatividade aprimoradas, migrando de um modelo reativo para um proativo na identificação precoce de riscos; a personalização do cuidado e suporte, com programas de bem-estar adaptados às necessidades individuais; a criação de ambientes de trabalho mais seguros e inclusivos; a liberação do humano para tarefas de valor, permitindo que profissionais de SST se dediquem à empatia e consultoria estratégica; a tomada de decisões baseada em dados e ética, com insights validados por humanos e a aplicação de princípios éticos robustos; e o aprimoramento da cultura organizacional, onde a IA é uma ferramenta para fomentar um ambiente positivo e de cuidado.

A visão da ABRESST é clara: um futuro digitalizado deve ser também profundamente humano. “O futuro da saúde ocupacional é de um ecossistema inteligente e humanizado, onde a tecnologia e a inteligência humana se complementam para construir ambientes de trabalho mais seguros, saudáveis, produtivos e, acima de tudo, dignos para todos os trabalhadores brasileiros”, conclui Ricardo Pacheco.

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