Uma pesquisa da Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, divulgada pela Rádio Itatiaia, mostra que 60% dos acidentes de trabalho no Brasil evoluem com algum grau de incapacidade funcional, especialmente no que se refere a lesões em mãos e membros.
Os problemas detectados nessas ocorrências envolvem duas – perigosas – ações: a pressa e o improviso. Eis a necessidade diária de verificar as condições e o andamento do trabalho, o que não se restringe ao uso correto de equipamentos de proteção (EPI) ou checagem de mobiliários e maquinários.
Manter uma rotina diária segura abrange orientações, escuta e trocas de conversas no início e no fim da jornada, planejamento e, principalmente, resiliência e calma para que o dia de trabalho seja com o mínimo de risco possível.
Pressa é inimiga da segurança
Um exemplo é o fechamento anual de atividades, o que leva a uma pressão para encerrar tarefas antes do recesso por conta do atingimento de metas.
Segundo matéria publicada pelo R7, empresas e trabalhadores, independentemente do cargo, precisam estar atentas a como está a saúde de todos os envolvidos e reforça o equilíbrio entre encerrar as atividades do ano sem (tanto) estresse. Se há sintomas como falta de sono, alterações alimentares e de humor, bem como queda da produtividade ou mesmo um esgotamento físico e mental, dentro e fora do ambiente laboral, o momento pede freio e replanejamento.
Outro problema é o improviso, que em vez de facilitar torna-se sinônimo de acidentes, afastamentos ou casos mais graves. Para a juíza do trabalho Graziele Cabral Braga Lima, além do fornecimento de EPIs e treinamentos, as empresas devem ter em seu quadro uma equipe de saúde do trabalho (SST), para um mapeamento de riscos e adoção de todas as medidas de segurança.
Ela afirma que o fator segurança não combina com pressa, ou seja, um prolongamento na realização das funções exercidas. Um tempo que não deve ser considerado como atraso, mas ganho em seguir as regras de segurança, aponta a magistrada.
A vez da NR-1
Com a entrada das atualizações da Norma Regulamentadora 1 (NR-1), que considera os riscos psicossociais e prevista para entrar plenamente em vigor em 2026, reforça ainda mais a afirmação que a saúde mental é crucial, não pode ser considerada uma “frescura”, muito menos um “ônus” para a folha das empresas.
Um assunto cada vez mais presente, urgente de mudanças, e, infelizmente, sentido de forma solitária no ambiente corporativo. O levantamento da plataforma Wellhub, intitulado Panorama do Bem-Estar Corporativo 2026, revela que 61% dos colaboradores com programas de bem-estar avaliam seu bem-estar geral como bom ou excelente, contra 40% entre os que não têm acesso a esses programas.
Na outra ponta, o estudo realizado com mais de 5 mil funcionários em 10 países, destaca que 53% dos funcionários consideram a terapia essencial para o bem-estar, mas só 46% têm um acompanhamento ativo. A psicanalista Carla Brandão, colunista do iG, especialista em desenvolvimento humano, afirma que sob o ponto de vista psicológico, pessoas são mais saudáveis quando são acolhidas, têm o sendo de pertencimento e a possibilidade de pedir ajuda sem medo ou restrições. Para tanto, empresas que cuidam não apenas de números, mas de seus times, consequentemente, tem pessoal mais engajado, criativo e colaborativo.
Vigilância em Saúde a Trabalhadores e Trabalhadoras
A Vigilância em Saúde do Trabalhador (Visat), integrante do Sistema Único de Saúde (SUS) tem como objetivo não apenas o acompanhamento de riscos, mas a promoção e prevenção de doenças, independentemente do tipo de vínculo do trabalhador. Ferramenta poderosa para a precaução, a Visat possui um olhar de entender os acidentes como sinal de falha de um sistema laboral e não como culpa de uma falha do indivíduo.
Sua relevância, aliás, foi foco da 1ª Reunião da Comissão de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (CISTT) do Conselho Nacional de Saúde, ocorrida recentemente, que reuniu representantes de entidades da sociedade civil e especialistas em saúde do trabalho.
“A criação de um departamento nacional vigilância em saúde do trabalhador e da trabalhadora representa uma chance histórica de estruturá-la, sendo capaz de enxergar o trabalhador para além das estatísticas. Isso significa proteger vidas continuamente e fortalecer o SUS onde ele mais precisa ser efetivo: na prevenção”, salienta Miriam Nardi, conselheira no Conselho Federal de Nutrição (CFN).


