Por Luciana Sampaio Moreira
Desde 2009, o Corpo de Bombeiros é a instituição brasileira mais confiável para a população e a partir de 2022, tem mantido pontuação de 87 em 100, segundo pesquisa anual da empresa de Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (IPEC).
Essa confiança é um dos resultados da atuação altamente qualificada dos bombeiros em milhares de operações que visam salvar vidas e evitar/minimizar perdas materiais Brasil afora. De pequenos chamados às grandes catástrofes amplamente noticiadas, as milhões de ocorrências que chegam pela Central 193 dos Estados incluem salvamentos e resgates em situações de incêndios, acidentes de trânsito e quedas de altura.
São eles que atuam quando há afogamentos e outros acidentes que acontecem dentro da água, quando há material perigoso envolvido e em tentativas de suicídio. E como se já não bastasse, também fazem partos, ajudam pais desesperados com seus filhos recém-nascidos engasgados e, entre uma operação e outra, inspiram uma legião de crianças. A internet que o diga!
O cuidado e a técnica demandam um padrão alto de segurança do profissional, de forma que a operação seja sucesso tanto para a vítima quanto para quem salva. Atual presidente da Fundação de Apoio ao Corpo de Bombeiros (Fundabom) e ex-comandante do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de São Paulo (CBMSP), coronel Valdir Pavão, diz que não se concebe qualquer trabalho realizado pelos bombeiros sem o uso do EPI adequado. “No Corpo de Bombeiros de São Paulo, esta é uma posição consolidada há décadas”, afirma.

Coronel Valdir Pavão, presidente da Fundabom e ex-comandante do CBMESP (Foto: Arquivo pessoal)
No caso de São Paulo, a corporação recebe em torno de 350.000 chamados por ano, para uma força operacional de 9 mil profissionais. Ele explica que, atualmente, os desastres naturais e os incêndios tecnológicos têm trazido novos desafios para o enfrentamento das emergências. Assim, torna-se fundamental o uso dos equipamentos de proteção, bem como o desenvolvimento, pela indústria, de novos materiais e equipamentos que protejam a saúde e a segurança dos bombeiros.
Cabe às corporações estarem atentas a esses movimentos para que a aquisição dos produtos alcance os melhores resultados. “Além de priorizar os modelos mais adequados, caso a caso, a certificação deve ser uma condição inegociável nesse processo”, enfatiza. Lembrando que “nenhum EPI pode faltar” e que aqueles disponíveis devem estar em perfeitas condições de uso.
O coordenador da Escola Superior de Bombeiros, mestre em Ciências pela Universidade Federa de São Paulo e mestre em Ciências Policiais pelo Centro de Altos Estudos da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais (PMESP), Capitão PM Tiago Regis Franco de Almeida explica que os EPIS são a primeira proteção do profissional ante os riscos da atividade.

Capitão PM Tiago Regis Franco de Almeida, coordenador da Escola Superior de Bombeiros (Foto: arquivo pessoal)
“Estamos frequentemente expostos a ambientes hostis — com calor extremo, fumaça tóxica, risco de desabamento ou contaminação biológica. Os EPIs garantem a integridade física do bombeiro, permitindo que ele atue com confiança e agilidade. Mais que um requisito técnico, o uso correto dos EPIs representa respeito à vida e à missão de salvar vidas”, avalia.
Para além das ações de combate às chamas, o militar informa que atualmente as ocorrências de resgate veicular em rodovias, salvamentos em altura e em áreas alagadas têm se destacado, bem como as tentativas de suicídio que, embora não sejam noticiadas, demandam abordagem técnica e emocional especializadas.
“A instituição é responsável por administrar recursos financeiros que apoiam e complementam os investimentos públicos destinados à corporação e atua na aquisição de equipamentos e materiais operacionais, apoio a programas de capacitação e treinamentos, além de promoção de campanhas de prevenção e educação pública, ligadas à segurança contra incêndios, acidentes e desastres naturais”, explica o militar.
Prioridade máxima
Engenheiro de materiais, consultor e representante comercial da Maiorproteção, Xavier Bihan observa que os EPIs usados pelos bombeiros são obrigatórios e regulamentados pela NR-6 – Equipamentos de Proteção Individual (EPI), pela presença de fatores de risco físicos, químicos e biológicos. “EPIs são individuais e intransferíveis e cabe às instituições compradoras, e/ou empregadores, no caso de empresas privadas, o fornecimento de meios de lavagens e reparo e eventuais substituições”, frisa.

Xavier Bihan, consultor e representante comercial
da Maiorproteção (Foto: arquivo pessoal)
Porém, cumprir a NR-6 não é suficiente. Por meio da avaliação de riscos, os gestores estabelecerão critérios adicionais de proteção. Ele destaca que embora a cultura de SST esteja presente em toda a atividade dos bombeiros, ainda há falhas que precisam ser corrigidas. Uma delas é a falta EPI de combate a incêndio florestais em diversas corporações. “Não é raro observar o uso do simples fardamento para esta atividade sem nenhuma proteção térmica ou uso de outros EPI inadequados”, alerta.
A norma de certificação que se aplica para esse tipo de EPI é a ISO 15384, diferente da antiga “e mais branda” EN 15614. O dispositivo enfatiza a importância da proteção contra o calor radiante e a prevenção da hipertermia nas atividades dos bombeiros. A certificação do EPI garante outras proteções, sendo essas as mais importantes para combate a incêndio florestal.
Vestimentas certificadas
No universo das vestimentas certificadas, há diferentes níveis de desempenho em proteção, dependendo do tipo de fibras empregado. “Quando falamos de EPI de combate a incêndio florestal em particular, ainda observamos muitos tecidos feitos de fibras não inerentemente antichamas e/ou fibras que naturalmente queimariam, que recebem um banho de químico ignifugo para se tornar “antichama”. Porém este produto ignifugo se desgasta com tempo e lavagens, fazendo que após certo tempo de uso pode perder as propriedades de proteção”, ressalta Bihan.
Por esse motivo, é mais seguro empregar EPI composto de fibras inerentemente antichama como fibras de aramida (por exemplo Nomex®), viscose FR (por exemplo Lenzing®, modacrilico FR) de que fibras não inerentemente antichama (algodão, poliamida). Ainda, as fibras inerentes, em particular de aramida, permitem melhor proteção térmica por peso, ou seja, possibilitam de confeccionar vestimentas mais leves que protegem bem.
“Esse fator é crucial porque vestimentas leves são importantes para prevenção da hipertermia, dado que são mais respirantes, permitem que o calor corporal seja dispersado por meio da transpiração, quando vestimentas pesadas retem mais o calor corporal”, explica o especialista.
A oferta de produtos é variada. De acordo com Bihan, há no mercado vestimentas de combate a incêndio florestal com Certificado de Aprovação (CA) com fibras mais baratas, como a de algodão, que precisam de um tratamento químico para atender o mínimo da norma certificadora. Porém, estes tecidos são pesados e pouco respirantes o que os tornam mais perigosos em relação a hipertermia, protegem menos do calor e das chamas que tecidos de fibras inerentes como aramida.
“O problema é que muitas instituições consideram que o CA, ou certificação internacional, é a garantia de um nível de desempenho suficiente. A responsabilidade da instituição é de fornecer EPI adequados, e o equipamento mais barato que possui certificação não é sempre o suficiente. No caso de EPI de bombeiros, a norma ISO TR 21808:2024 – Melhores práticas na seleção e uso de equipamentos de proteção individual (EPI) projetados para fornecer proteção para bombeiros traz uma metodologia específica para realização da avaliação de riscos em previsão da aquisição de EPI”, recomenda.
Esta norma pode ser usada pelos compradores para estabelecer critérios objetivos e mensuráveis, que possam mitigar os riscos específicos enfrentados, em complemento dos critérios mínimo da norma de certificação, na fase preparatória da aquisição, no caso de compras públicas, durante a preparação do ETP (Estudo Técnico Preliminar).
Xavier Bihan destaca que, em diversos Estados, os bombeiros militares têm usado o EPI “multimissão” que abrange as atividades de resgate técnico (resgate automotivo e estruturas colapsadas) bem como incêndio florestal com a mesma vestimenta. O Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina (CBMSC) foi pioneiro em adotar este EPI em 2021.
Combate ao adoecimento
Além do risco de acidentes, os bombeiros ainda vivem o desafio de conviver com o adoecimento por câncer, a primeira causa de morte entre os profissionais. Segundo o especialista, o kit completo de equipamentos é suficiente para impedir o contato com a pele, no entanto, o modelo mais usado de balaclava é considerado insuficiente para esse fim.
No entanto, há uma nova geração de balaclavas que integra uma camada intermediaria como o Nomex® Nano Flex, entre as duas malhas cuja função é impedir a penetração de partículas de fumaça (que são cancerígenas) e entrar em contato com a pele do bombeiro. “Esses equipamentos ainda são pouco difundidos no Brasil, mas devem ganhar espaço nos próximos anos, dada a preocupação em relação ao aumento de câncer na população de bombeiros”, projeta.
Ainda em relação a esse problema, estão surgindo soluções de lavagem correta de EPI de bombeiros como a lavanderia especifica SOS FIRE CLEAN e a descontaminação por CO2 líquido da empresa belga Decontex, que atendem a norma técnica ISO 23616:2024 que define as responsabilidades, os meios que as organizações devem implementar, os procedimentos operacionais pós-incêndio e critérios para lavagem do EPI, para a remoção eficiente de partículas cancerígenas e de outros contaminantes, e ao mesmo tempo, assegura que o processo de higienização não leve à perda das propriedades de proteção do EPI.
“A legislação assegura ao bombeiro civil (por meio das portarias do MTE) e ao bombeiro militar (por meio da Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social – PNSPDS, instituída pela lei nº 13.675/2018) o direito de ter a sua disposição acesso a equipamentos de proteção individual e coletiva, em quantidade e qualidade adequadas e dentro do prazo de validade”, frisa Bihan.
Já a norma ISO 13688 recomenda que os materiais usados na produção de EPI não apresentem perigo ao usuário em condições previsíveis de utilização. Ou seja, os tecidos não podem ter materiais prejudiciais à saúde. “Estas soluções precisam ser adotadas tanto pelos bombeiros civis quanto militares para garantir a segurança dos profissionais. E a norma ISO 23616 indica que enquanto o EPI é higienizado, outro deve estar disponível e em perfeita condição de uso. Por este motivo, em diversos países já se tem 2 ou 3 EPI por bombeiro, mas isso ainda não é cumprido no Brasil”, aponta.
Mercado de EPIS para bombeiro tem soluções variadas
A lista de equipamentos de proteção individual (EPI) para bombeiros é extensa e cada item tem a sua importância. Todos, sem exceção, são indispensáveis. São eles: conjunto de combate a incêndio (calça e jaqueta com proteção térmica), capacete com viseira, luvas específicas para altas temperaturas, botas com proteção contra perfurações e calor, balaclava e a máscara autônoma (EPR). Em outras naturezas de ocorrência, roupas de neoprene ou roupas secas são necessárias bem como coletes salva-vidas, cadeiras de altura, máscaras de proteção respiratória, entre outros, para cada tipo de risco. Qual deles é o mais importante? Todos.
Confira algumas opções.
VONDER

Foto: Vonder/Divulgação
A Vonder é a principal marca do Grupo OVD, um dos maiores atacadistas de ferragens e ferramentas e equipamentos para uso profissional do Brasil, com 55 anos de atuação e prêmios recebidos pela linha de proteção individual e coletiva, segundo o diretor comercial do Grupo OVD/Vonder, Valter Antonio Lima Santos.
“Nas atividades do bombeiro profissional, os EPIs devem considerar a eminência de riscos variados”, frisa. Atenta, a Vonder tem a luva de polietileno com fibra de vidro e resistente a corte (PNV 1010 Vonder) que garante proteção das mãos contra agentes mecânicos escoriantes, abrasivos, cortantes e perfurantes.
O modelo de nylon com poliuretano touchscreen (LTV 108 Vonder), permite o manuseio de smartphones ou outros equipamentos, enquanto protege as mãos contra agentes mecânicos escoriantes.
Entre os calçados, o destaque é a Bota de PVC Azul com Polaina Amarela VONDER, nas versões com ou sem forro, que tem excelente resistência a reagentes químicos. Outro modelo é a botina com proteção elétrica, indicada para proteção dos pés contra riscos de natureza leve, agentes abrasivos e escoriantes, contra choques elétricos em trabalhos com baixa tensão (até 500 V), em ambiente seco.
A empresa também tem o seu Conjunto de Segurança CSV 750NE VONDER, composto por cinturão de segurança e talabarte, indicado para proteção individual contra riscos de queda.
Dräger

Foto: Dräger/Divulgação
A alemã Dräger possui mais de 100 itens que configuram proteção respiratória dos pés à cabeça dos bombeiros. O destaque é a máscara autônoma PPS Airboss, equipamento mais leve do mercado e com robustez garantida pelas normas European Standards, BSI Standards and International Standards assim como a National Fire Protection Association (NFPA).
Conforme o responsável pelo marketing de produtos da empresa, Joelmir Ferreira de Morais, os diferenciais dos equipamentos Dräger são leveza, ergonomia e possibilidade de manter a comunicação durante uma ocorrência.
“Com essa máscara, não é preciso usar rádios, o que aumenta a eficiência”, ressalta. O lançamento do momento é a UCF FireCore, câmera de imagem térmica integrada que permite que o bombeiro visualize termicamente toda a zona quente sem o uso das mãos.
Cedro Têxtil

Foto: Cedro Têxtil/Divulgação
Com mais de 150 anos de história, a Cedro tem a sua divisão de Workwear, com soluções sob medida para a proteção e o conforto dos bombeiros. Segundo o gerente de marketing, Leandro Vieira Coelho, a linha Security Work tem uma gama variada de tecidos usados pelos corpos de bombeiros de todo o país.
“São tecidos mistos de algodão com poliéster, estrutura Rip Stop que proporcionam alta resistência ao fardamento, proteção contra raios ultravioletas e acabamentos especiais. Para este mercado, a empresa acaba de lançar o Flex Rip Stop Mais, tecido Rip Stop com elasticidade e tingimento profissional, já em uso por várias corporações de bombeiros”, informa.
Os acabamentos especiais incluem tecnologias que proporcionam proteção contra fogo repentino, arco elétrico, repelência a agentes químicos, água e óleos. Também tecnologia antimicrobiana que inibe a proliferação de bactérias causadoras de mau odor, antimicrobiano viral que inativa o vírus do COVID em até 2 minutos de contato ao tecido.
“A Cedro lançará, em breve, um novo tecido com proteção contra riscos de explosão causados por eletricidade estática. Esse tipo de tecido será mais uma opção para fabricação de fardamentos multimissão utilizados pelos bombeiros”, adianta.
Ansell

Foto: Ansell/Divulgação
A australiana Ansell é líder global em soluções de segurança e fabricante integrado de equipamentos de proteção individual para a área de saúde e locais de trabalho industriais. A marca Hércules, adquirida em 2013 pela companhia, está em constante expansão e se destaca com seus produtos de altíssima qualidade no combate a incêndio, trabalho em altura, espaço confinado e proteção química.
O gestor de Pesquisa e Desenvolvimento, Renato Esteves da Silva, destaca que entre os diferenciais do conjunto de vestimentas para combate a incêndio da Ansell, destaca a Certificação Europeia CE EN 469 que assegura outros parâmetros de segurança e possibilita também a expansão para o mercado europeu e o Certificado de Aprovação (CA). “A qualidade dos nossos produtos foi um grande diferencial para sairmos vencedores de algumas licitações, dentre as quais destacamos o SENASP e o Corpo de Bombeiros Militar do Rio de Janeiro (CBMRJ)”, comenta.
A Ansell tem alguns modelos em desenvolvimento para o próximo ano, sendo um destaque a disponibilização das vestimentas na modelagem feminina, que oferecem além da questão estética, facilidade de acesso aos veículos, locais de combate, conforto e mobilidade. Os blusões e calças são oferecidos ao mercado em 16 tamanhos distintos.
A família de vestimentas para combate a incêndio tem três categorias. A HJ931LEN100 oferece alta segurança, mas sem muitos acessórios como bolsos extras e proteções nos cotovelos. A HJ931LEN200 foi desenvolvida pensando no mercado militar e industrial, com zíper anti-pânico, DRD e proteção nos ombros e cotovelos. Já aHJ931LEN300 (blusões) é de produtos premium e foco 100% militar, com zíper anti-pânico, EVA na cintura e ombros, EVA nas costas, DRD e proteções nos joelhos e cotovelos. A calça possui a parte pélvica acolchoada.
Missão em Brumadinho já tem mais de seis anos
Uma operação emblemática do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Minas Gerais (CBMMG) completou seis anos em janeiro. Em janeiro de 2019, o rompimento de uma barragem de rejeitos na unidade da mineradora Vale, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), tem movimentado a corporação em diversas frentes de atuação e nos vários estágios da ocorrência.

Tenente Henrique Barcelos, porta-voz do CBMMG (Foto: arquivo pessoal)
Hoje, com efetivo reduzido, os bombeiros ainda realizam a busca pelos poucos corpos que ainda não foram encontrados, a partir do monitoramento do material (lama) que inundou as instalações e o entorno e deixou 270 mortos, dos quais três ainda desaparecidos. Segundo o porta-voz da corporação, tenente Henrique Barcelos, para além do treinamento contínuo das equipes, as práticas de Saúde e Segurança no Trabalho (SST) marcam cada etapa da operação.
“Nos cursos de formação, temos disciplina de Segurança no Trabalho no serviço de bombeiro militar, na qual apresentamos estatísticas de acidentes, pontos de atenção, tipos de EPI para cada situação e renovamos a conscientização sobre esse uso e sobre a necessidade de prevenir ocorrências durante a jornada de trabalho”, informa.
Todos esses conteúdos são abordados e regulados por grupos temáticos operacionais e os bombeiros especialistas também auxiliam a corporação em testes, avaliaçõese validações de equipamentos, além de alimentarem a tropa com informações atualizadas sobre SST e EPIs.

EPIs são a primeira proteção em ambientes perigosos enfrentados regularmente pelos combatentes (Foto: CBMMG)