Por Fernando Henrique Tavares de Melo Rodrigues
A 9ª edição da Semana CapacitaSIT, realizada em maio de 2025, com o apoio da Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho (CANPAT 2025), apresentou dados preocupantes sobre a realidade dos acidentes e das doenças relacionadas ao trabalho no Brasil. Em 2023, foram registrados 732.751 acidentes laborais dos quais 2.780 resultaram em óbito. Esses números revelam não apenas o impacto direto sobre os trabalhadores, mas também os prejuízos sociais mais amplos, como a redução da qualidade de vida e a ruptura de vínculos familiares.
Diante desse cenário, torna-se urgente uma transformação cultural visando a valorização da prevenção. Especialistas em Saúde e Segurança do Trabalho apontam que essa mudança deve começar desde a base da formação cidadã: o ambiente escolar.
Com essa perspectiva, iniciativas como o Projeto Saúde na Escola e a implementação da CIPA Escolar – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, Doenças e Violências nas Escolas, promovidas em parceria pelo Ministério Público do Trabalho e pelas as secretarias municipais de educação, representam estratégias fundamentais para o desenvolvimento de uma cultura de prevenção desde a infância. Ao investir na conscientização de crianças e jovens, essas ações contribuem para a formação de uma geração mais consciente, responsável e comprometida com a segurança no ambiente de trabalho.

Foto: arquivo do autor
A efetivação do Projeto CIPA Escolar depende, de forma decisiva, do engajamento voluntário das empresas e da colaboração ativa dos profissionais das áreas de Segurança, Medicina do Trabalho e Recursos Humanos. Nesse contexto, a Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção do Trabalho (Animaseg), tem desempenhado um papel de destaque como promotora da iniciativa. A entidade vem mobilizando seus associados a adotarem escolas em suas comunidades, promovendo ações educativas e participativas que disseminem o conhecimento sobre prevenção de acidentes e saúde no ambiente escolar.
Projeto CIPA Escolar – Da condição segurança ao processo de aprendizagem
A CIPA Escolar é uma iniciativa do técnico de segurança do trabalho Orlandino dos Santos, profissional amplamente dedicado à promoção da cultura de prevenção, especialmente no ambiente escolar. Ele é também o idealizador de importantes ações no campo da segurança, como a Lei Federal n.º 12.645, que instituiu o Dia Nacional de Segurança e Saúde nas Escolas, celebrado em 10 de outubro.
As instituições de ensino, apesar de sua função formadora, não estão isentas de riscos. São ambientes nos quais podem ocorrer acidentes envolvendo tanto estudantes quanto professores e demais profissionais da educação. Os docentes, por exemplo, estão expostos a diversos agentes de risco, como: ruído, fatores psicossociais e condições que podem desencadear acidentes e doenças ocupacionais.
Segundo pesquisa do DATASUS, em 2020, foram registradas 4.273 mortes de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos vítimas de acidentes. Além disso, o ambiente escolar enfrenta desafios complexos, como casos recorrentes de bullying, violência entre os estudantes e agressões contra professores, o que reforça ainda mais a necessidade de ações estruturadas de prevenção e promoção da saúde.
Contudo, muitas escolas ainda não contam com planos estruturados de segurança do trabalho, o que acentua a vulnerabilidade diante de situações emergenciais. Soma-se a isso a ausência de uma cultura preventiva mais consolidada na sociedade, dificultando a adoção de medidas proativas.
A educação desempenha papel central na formação do indivíduo e na construção da cidadania. A implementação da CIPA Escolar representa um importante passo para capacitar as instituições de ensino a adotarem medidas preventivas e corretivas. Por meio da integração da segurança ao cotidiano escolar, esse projeto oferece suporte para o aprimoramento dos regimentos internos, promovendo uma cultura de saúde, bem-estar e prevenção desde os primeiros anos da vida estudantil.
Seja um agente dessa ação: Adote uma escola!
A Animaseg tem incentivado e apoiado as empresas adotarem escolas, estabelecendo parcerias diretas e indiretas que viabilizem ações voltadas à promoção da saúde e segurança no ambiente escolar. Essas iniciativas podem ser desenvolvidas por meio da CIPA, seja de forma contínua ou pontual, conforme as necessidades e diretrizes do projeto.
O primeiro passo para o envolvimento empresarial é o contato com a direção da escola, com o objetivo de manifestar o interesse em colaborar como voluntário da iniciativa. As empresas podem contribuir por meios de doações financeiras destinadas à implantação e manutenção das atividades da CIPA Escolar, além de disponibilizar profissionais experientes nas áreas de segurança e saúde no trabalho para apoiar a elaboração de programas, realizar inspeções e orientar alunos e profissionais da instituição.
Além do suporte técnico e humano, as organizações também podem fornecer recursos de materiais, como kits de primeiros-socorros, placas de sinalização, equipamentos de proteção individual (EPIs), entre outros itens que garantam um ambiente escolar mais seguro. Também é possível promover campanhas educativas, ações de conscientização e estabelecer parcerias que fortaleçam a cultura da prevenção.
A participação de profissionais de segurança do trabalho nesse contexto contribui diretamente para a construção de um ambiente escolar mais saudável e protegido, ao mesmo tempo em que amplia sua própria experiência e qualificação técnica. Esses profissionais podem atuar na identificação de riscos, ministrar treinamentos, desenvolver materiais educativos e estimular a internalização de boas práticas entre estudantes, professores e demais funcionários.
O envolvimento das empresas nesse projeto também gera benefícios institucionais importantes, como o fortalecimento da imagem corporativa, a ampliação da reputação perante a comunidade e a possibilidade de atrair novos clientes e parceiros. Além disso, ao apoiar a CIPA Escolar, as organizações reafirmam seu compromisso com a responsabilidade social e contribuem para o cumprimento de critérios relacionados ao ESG (ambiental, social e governança).

Foto: Arquivo do autor
Portanto, a participação ativa das empresas e dos profissionais da área de segurança do trabalho é fundamental para consolidar uma cultura de prevenção de acidentes no ambiente escolar. A proposta de transformar os alunos em “fiscais permanentes” da saúde e segurança, por meio do engajamento coletivo, proporciona um espaço educacional mais protegido e contribui para a formação cidadã dos futuros profissionais.
Fernando Henrique Tavares de Melo Rodrigues
Gestor de Saúde e Segurança do Trabalho
Especialista em Docência na educação profissional e ensino técnico
Secretário da Comissão de Estudo de Vestimentas Impermeáveis (CE 032:007.001)